sábado, 23 de janeiro de 2021

Colombo e os conhecimentos cartográficos portugueses

 

Colombo utilizou o mapa de um cartógrafo florentino Paolo dal Pozzo Toscanelli[1]. Vignaud considerou a possibilidade de Colombo ter forjado esta carta, porém, Carlos Malheiros considera pouco provável essa hipótese, pois Colombo não forjaria um documento que lhe tiraria a primazia por considerar a possibilidade de caminho pelo oeste como de sua autoria. Para Carlos Malheiros tal certeza somente se confirmou em Colombo após a prolongada residência em Portugal onde teve conhecimento das viagens de navegadores portugueses entre os quais João Vaz Corte Real (1420-1496), João Fernandes, o Lavrador (1453-1501, juntamente com Pedro de Barcelos, foram os primeiros a avistar a Costa de Labrador na América do Norte em 1492), Pero de Barcelos, Álvaro Fonte (sobrinho de João Gonçalves Zarco que havia chegado ao arquipélago da Madeira ao serviço do Infante D. Henrique) e Vicente Dias (guia de Luís de Cadamosto na exploração da costa ocidental do continente africano)[2]: “O plano de Colombo, se teoricamente se baseia na doutrina de Toscanelli, na parte experimental funda-se nos conhecimentos portugueses, referidos nas obras dos panegiristas de Cristóvão Colombo, salientemente de Las Casas e Fernando Colombo”.[3] Ao confundir a milha árabe e a milha italiana Colombo estimou que o Japão (Cipango segundo a denominação de Marco Polo [4]) estaria a distância de 5 mil milhas náuticas quando a medida correta é de 20 mil milhas náuticas, ou seja, não tivesse encontrado a América no meio do caminho Colombo não teria suprimentos para concluir sua viagem. Toscanalli baseara suas medidas nos relatos de exploradores como Marco Polo e supunha que a Asia estaria numa distância necessariamente superior a metade da do globo terrestre. Na época já se tinha como certo a esfericidade da terra.[5] Colombo desconhecia as medidas mais precisas da circunferência da terra feitas pelo grego Eratóstenes [6]. Os sábios de Salamanca rejeitaram a proposta inicial de Colombo em 1484, mas ao final conseguiu o apoio de Castela para sua viagem. Ainda quando de sua morte Colombo sempre acreditou que estivera na Ásia e apesar de hoje ser conhecido como descobridor das Américas jamais acreditou ter descoberto um novo continente entre a Europa e a Ásia. [7] Um esboço feito pelo irmão de Colombo (na figura), Bartolomeu Colombo, que mostra os litorais que percorreu em sua quarta viagem como se fosse parte da Índia e China. O Panamá aparece banhado pelo oceano Índico em reprodução de F. Wieser no MItteilungen des Institut fur oesterreichische Geschitsforschung Erganzungsheft, 1893 [8]

[1]BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.II, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 30; HALE, John. Idade das explorações. Biblioteca de História Universal  Life, Rio deJaneiro:José Olympio, 1970, p.52; HERRMANN, Paul. A conquista das Américas. Sâo Paulo:Boa Leitura, 1960, p.37

[2]VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1912, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. LXI

[3]VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1912, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. LXX

[4]BARRETO, Elias. Enciclopédia das grandes invenções e descobertas. São Paulo:Cascino Editores, 1971, p.28

[5]SÁBATO, Ernesto. Nosso universo maravilhoso, Rio de Janeiro:Brasil Lê, v.IV, p.118

[6]MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 425

[7]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.229

[8]VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1912, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. LIV



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