Caio
Prado Jr., em Formação do Brasil
Contemporâneo, publicado pela primeira vez em 1942 defende a tese de que
enquanto houve colônias de povoamento nos EUA (o termo foi cunhado por Leroy
Beaulieu em De la colonisation chez les peuples modernes publicado em
1882)[1],
no Brasil tivemos colônias de exploração para explorar os recursos naturais de
um território virgem em proveito do comércio europeu. As descobertas foram
mero “capítulo da história do comércio europeu”.[2] Roberto Simonsen já apontara o interesse mercantil de Portugal quando renomeou
o país de Terra de Santa Cruz para Brasil. O católico João de Barros já
denunciava os interesses mercantilistas: “por
artes diabólicas se mudava o nome de Santa Cruz, tão pio e devoto, para o de um
pau para tingir tecidos”. Segundo o jesuíta do século XVI: “vergonha que a cupidez do homem, por
preocupações do tráfico, substituísse o lenho da cruz, tinto com o real sangue
de Cristo, pelo de outra madeira, semelhante somente na cor”.[3] O padre Antonio Vieira destaca o entrelaçamento
de interesses religiosos e mercantilistas: “Se não houvessem mercadores que
fossem procurar os tesouros da terra no Oriente e nas Índias Ocidentais, quem
transportaria para lá os pregadores que levam o tesouro celeste ?”.[4] Segundo Pereira da Silva sobre as conquistas portuguesas na Àfrica e na Índia: “Não
se tratava de uma conquista regular, ou de uma metódica colonização.
Pretendia-se transferir das Índias para Lisboa tudo o que valesse a pena para o
reino. Era opinião corrente em Portugal que partia-se para as Índias no intento
exclusivo de enriquecer-se. Lauto banquete aberto para as cobiças. Voltasse com
riquezas e seria considerado e honrado na pátria. Pobre, embora carregado de
serviços, ferido no corpo, maltratado da sorte, estava exposto a sofrer prisões
e misérias, como sucedera a Duarte Pacheco”.[5] Duarte Pacheco vencera o cerco a Calicute e voltara em triunfo a Portugal em 1505
tendo sido seus feitos na Índia relatados ao papa. De 1519 a 1522 foi nomeado
capitão e governador de São Jorge da Mina onde foi acusado de contrabando de
ouro tendo sido preso pelo rei português D. João III que governou de 1521 a
1557. Para Roberto Simonsen de uma mera colônia de exploração o Brasil foi se
transfigurando em uma colônia mista de povoamento e exploração mais tarde [6].
[1]JUNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil, São Paulo: Brasiliense, 1979,
p.22
[2]JÚNIOR, Caio Prado. Formação do
Brasil contemporâneo. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.22
[3]SIMONSEN, Roberto.
História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.64
[4]BOXER, Charles. O império Colonial português, Lisboa:Edições 70,
1969, p.81
[5]BRITO, José Gabriel
Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v.
155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.11
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