sábado, 19 de dezembro de 2020

Usura da idade média

 

Jean Claude Schmitt mostra que foi a universidade escolástica não se limitou a questões religiosas tendo levado ao “nascimento do espírito laico” onde foram elaboradas por exemplo a justificação teórica do trabalho manual assalariado e a doutrina do “preço justo” bem como do empréstimo monetário a juros tornado lícito apesar da determinação da Igreja em contrário.[1] Para a Igreja o empréstimo a juros era condenável porque significava o mesmo que cobrar pelo uso do tempo, que pertencia somente a Deus. A teoria aristotélica da esterilidade do dinheiro: “dinheiro não engendra dinheiro” também condenava a usura. Nesse sentido o controle na imposição de preços por parte das guildas era sujeito à críticas [2]. Em 1179 no III Concílio de Latrão a Igreja proibiu aos cristãos a prática da usura.[3] Por outro lado, Marx relativiza a restrição à usura: “A usura vive nos poros da produção, tal como os deuses de Epicuro vivem no espaço entre os mundos”.[4] Ian Mortimer mostra que com o advento dos relógios mecânicos e a dessacralização do tempo o argumento contrário ao uso de juros foi relativizado.[5]

[1]SCHMITT, Jean Claude. Clérigos e leigos. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 280

[2]JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.45

[3]GUREVIC, Aron. O mercador. In: LE GOFF, Jacques. O homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.168; AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.38

[4]ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 216

[5]MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 152




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