Segundo Ciro Flamarion a irrigação não é causa do surgimento do Estado centralizado mas pelo contrário, a irrigação centralizada somente se tornou possível após a existência de um Estado centralizado.[1] Kurt Butzer mostra que embora a agricultura fosse praticada por quase dois milênios antes da unificação política dos Reinos do Alto e Baixo Egito por volta de 3000 a.c. a evidência mais antiga de irrigação artificial é uma cabeça de clava de calcário de cerca de 25 cm de altura, símbolo do poder real, que mostra o rei Escorpião (rei Narmer ou Menés, possivelmente [2]) um dos últimos reis pré dinásticos cortando um dique de irrigação para dar início a inundação dos campos datada de 3200 a.c.. Para Karl Butzer é difícil aceitar a tese de Baumgartel de que a cena mostra a construção de um templo.[3] Uma das distinções mais honoríficas no Antigo Egito era a de “Escavador de canal”.[4] Heródoto relata que o Alto Egito era um pântano até que o primeiro faraó Menés / Narmer [5] construiu diques ao sul de Mênfis o que permitiu que o delta do rio fosse drenado e transformado em uma imensa reserva de terra aumentando a área cultivada.[6] Uma inscrição de 1870 a.c. registra a construção de um canal de 150 côvados de comprimento, 20 côvados de largura e 15 de profundidade tornando possível a navegação à primeira catarata [7]. O grego Menes deriva do egípcio mena que significa “o fundador”, o que segundo alguns autores pode indicar que a Menés não é um personagem histórico.[8] Jean Vercoutter mostra monumentos imediatamente anteriores à unificação do país encontrados em Hieracômpolis, que, supõe-se, foi a capital dos reis do Sul dessa época, que representam um rei chamado Escorpião lutando contra os egípcios do Norte conquistando cidades. Este rei unificador do país presume-se tenha sido seu sucessor, Narmer. A cabeça de clava de Escorpião no Ashmolean Museum, Oxford representa uma grande figura, possivelmente o faraó, com a coroa branca do Alto Egito representado junto a um escorpião.[9] Uma paleta votiva de 3200 a.c. no Museu do Cairo mostra o faraó, representado em formas animais como um escorpião, com uma picareta derrubando sete cidades. [10]
[1] CARDOSO, Ciro
Flamarion. O Egito antigo. Coleção Tudo é história, n° 36, São
Paulo:Brasiliense, 1986, p.24, 47, 102
[2] MALKOWSKI, Edward. O
Egito antes dos faraós. São Paulo:Cultrix, 2010, p. 168, 208; CHILDE,
Gordon. Early forms of society.
In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, Oxford Clarendon
Press, 1958, p. 51
[3] BUTZER, Karl. Early hidraulic civilization in Egypt, Chicago:University
Chicago Press, 1976, p.47 https://oi.uchicago.edu/sites/oi.uchicago.edu/files/uploads/shared/docs/early_hydraulic.pdf
[4] JOHNSON, Paul. História
Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 21
[5] DUNAN, Marcel; BOWLE, John. Larousse encyclopedia of ancient &
medieval history, Paris:Larousse, 1963, p.41
[6] JOHNSON, Paul. História
Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 35;DROWER,
M. water supply, irrigation and agriculture, In: In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of
technology, Oxford Clarendon Press, v.I, 1958, p. 529
[7] JOHNSON, Paul. História
Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 178
[8] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest,
2012, p. 6, 225
[9] https://pt.wikipedia.org/wiki/Escorpi%C3%A3o_II
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