Guilherme Oncken destaca que a arte da escrita criou
um verdadeiro abismo entre a massa popular e os sábios, formou-se uma “aristocracia de sábios”.[1] Segundo
um antigo manuscrito egípcio: “Escolhei a
profissão de escriba para que as vossas penas se tornem macias e as vossas mãos
suaves, para que vos seja permitido trajar uma túnica branca e para que os
homens de importância vos cumprimentem com respeito [...] A profissão de
escriba é mais lucrativa do que qualquer outra profissão. Não tereis de vos
dedicar ao trabalho manual. Não tereis necessidade de empunhar uma enxada, uma
picareta ou cesto, ou mesmo de remar um barco. A vossa vida estará isenta de
preocupações”.[2] Uma
das ironias é que muitos dos textos que conhecemos do Egito Antigo são cópias
imperfeitas feitas por alunos durante seus exercícios, dos quais eles jamais
imaginariam que iriam perpetuar tais obras por milênios.[3] A Sátira
das Profissões / Sátira dos Ofícios que deve remontar ao segundo milênio a.c. menciona
dezoito tipos distintos de ofícios entre as quais, escriba, sacerdote, soldado,
médico, arquiteto entre as mais nobres e demais como barbeiro, embalsamador,
carpinteiro, curtidor do couro, sendo que o ofício de escriba se destaca pela
importância diante de outras profissões: “Nunca
vi um escultor ser mandado para uma embaixada, nem um fundidor de bronze
liderando uma missão. Eu vi ferreiros trabalhando na boca da fornalha. Seus
dedos são como garras de crocodilo. Eles fedem como ovas de peixes podres. O artesão de qualquer tipo que lida com o
cinzel - não emprega tanto movimento quanto aquele que lida com a enxada.[4] Segundo
Max Weber: “Quanto mais desenvolvida a
técnica de escrita e dos cálculos, tanto mais forte o poder central [...] Os
escribas dominavam no antigo Egito a administração [...] No Egito, durante o
Império Médio havia um feudalismo oficial ou administrativo e no Novo uma administração
burocrata de escribas [...] O primeiro regime burocrático patrimonial conhecido
levado em prática em toda sua consequência foi o do Antigo Egito”.[5]
[1]ONCKEN, Guilherme.
História Universal. História do Antigo Egito, v.I, Rio de Janeiro:Bertrand,
p.51
[2]WHITE, Jon Manchip. O
Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 145; JOHNSON, Paul. História
Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 259
[3]British Museum Guide,
London, 1976, p. 47
[4]MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 119; MASPERO, Gaston. History Of Egypt, Chaldæa, Syria, Babylonia, and Assyria, v. 2,
London:Grolier Society, 1896.
http://www.gutenberg.org/files/17322/17322-h/17322-h.htm
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