domingo, 13 de dezembro de 2020

Cobre no Egito Antigo

 

Charles Marston aponta a preferência dos egípcios pelo cobre, que vinha da Península do Sinai [1], ao invés do ferro por respeito às tradições.[2] Em Timna, próximo ao Sinai foram encontradas minas de cobre da época de 18° a 20° dinastias (1550 – 1070 a.c.) [3] Bromehead observa que o cobre era trabalhado no território egípcio a partir da III Dinastia (2600 a.c.) possivelmente com tecnologia trazida da Suméria.[4] Arnold Toynbee mostra que no Egito o ferro superou o cobre como ferramenta somente no século VII a.c., de modo que as tarefas de corte em pedra eram feitas com cobre.[5] A substituição do cobre pelo bronze no Egito se deu quase um milênio depois da Baixa Mesopotâmia, o que revela o atraso do Egito na absorção desta tecnologia, diante da abundância de cobre.[6]

O cobre difundiu-se por todo o vale do Nilo por volta de 3300 a.c. tendo origem do Oriente Médio no “Crescente Fértil” ou mesmo talvez origem autóctone.[7] Paul Johnson mostra que a difusão da tecnologia do cobre ocorre no momento da centralização dos reinos egípcios e, 3100 a.c aumentando significativamente a produtividade das oficinas o que fez a realeza prosperar contribuindo assim diretamente para o fortalecimento do poder.[8] O cobre era endurecido com arsênico.[9] O Egito antigo dominava técnicas básicas de metalurgia do cobre como a forjadura, a martelagem, a moldagem, a estampagem, a soldagem e a rebitagem.[10] Na estatutária desde a VI dinastia a estátua de Pepi I, mostra uma obra feita de lâminas de cobre marteladas sobre um corpo de madeira com olhos fabricados com pedras raras.[11]

Mark Lehner, um egiptologista do Harvard Semitic Museum, contudo, demonstra como por meio de ferramentas de cobre [12] como martelos, brocas, rampas poderiam ser construídas nas pirâmides, ao construir uma pirâmide de 6 metros de altura [13]. As ferramentas de cobre guardadas no museu do Cairo são apontadas por especialistas como William Petrie e Franz Löhner [14] como insuficientes para poder cortar as mais de duas milhões de rochas que compõem a pirâmide, algumas pesando quinhentas toneladas [15]. Christopher Dunn argumenta que “identificar cobre como o metal usado para cortar granito é como dizer que o alumínio pudesse ser cortado usando-se um cinzel feito de manteiga”.[16] O ponto de fusão do cobre é elevado (1083C) o que exige um desenvolvimento na tecnologia de fornos. Como metal mole o cobre não se prestava ao fabrico de instrumentos de corte [17], somente para pedras moles, pois para pedras duras como granito, gnaisse, diodorito ou basalto usava-se o picão, cinzel e o martelo de pedra dura [18]. As ferramentas de corte de cobre não conservam o fio de corte por muito tempo exigiriam afiação constante [19]. Para pedras duras uma possível técnica era talhar um sulco em torno do bloco a ser extraído e depois, em vários pontos ao longo do sulco, fazer profundos talhos no interior dos quais eram inseridas cunhas de madeira, que uma vez molhadas, por dilatação, eram suficientes para fender a pedra ao longo dos sulcos. Para o corte do granito seriam necessários instrumentos de ferro, no entanto, não há evidências do domínio do ferro nesta época pelos egípcios.[20] Heródoto afirma que os construtores egípcios usavam ferro e o trabalho com pedras duras como granito e diorito sugere o uso de ferramentas de ferro.[21] Alvarez Lopez apresenta a hipótese de que o uso do ferro pode ter sido restrito por questões religiosas, de pureza espiritual, algo que se observa por exemplo em 1Reis 6:7 quando a Casa do Senhor construída por Salomão não poderia ser feita usando-se qualquer instrumento de ferro.[22] Em Jó 28 destaca-se os processos de extração das minas de cobre “O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre”.

[1]ROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 86

[2] MARSTON, Charles. A Bíblia disse a verdade, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 187

[3] BAINES, John; MALEK, Jaromir. O mundo egípcio:deuses, templos e faraós. Rio de Janeiro, Edições del Prado, 1997, p.19

[4] BROMEHEAD, C. Mining and quarrying. In. SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.I, Oxford, 1956, p.564

[5] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.152, 210

[6] CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito antigo. Coleção Tudo é história, n° 36, São Paulo:Brasiliense, 1986, p.26; HODGES, Henry. Technology in the ancient world, New York: Barnes & Noble Books, 1970, p. 92

[7] KI-ZERBO, Joseph, História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África, Brasília : UNESCO, 2010, p.824

[8] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 34

[9] CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito antigo. Coleção Tudo é história, n° 36, São Paulo:Brasiliense, 1986, p.35; KHUON, Ernst. Vieram os deuses de outras estrelas ? São Paulo:Melhoramentos, 1972, p.223

[10] MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.124

[11] CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 168

[12] http://www.pbs.org/wgbh/nova/lostempires/obelisk/cutting.html

[13] https://en.wikipedia.org/wiki/Egyptian_pyramid_construction_techniques

[14] http://www.cheops-pyramide.ch/khufu-pyramid/stone-cutting.html

[15] GRIMBERG, Carl. História Universal: a aurora da civilização, v.1, Chile:Publicações Europa, 1989, p. 41

[16] https://www.fascinioegito.sh06.com/maquinaria.htm

[17] BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.125

[18] MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.131

[19] TOTH, Max; NIELSEN, Greg. A força das pirâmides, São Paulo:Record, 1976, p.81

[20] CHILDRESS, David Hatcher. A incrível tecnologia dos antigos, São Paulo:Aleph, 2005, p. 271; MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.37

[21] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.72

[22] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.25



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