A sociedade urbana em
Minas Gerais diversificou-se com o ciclo do ouro, carpinteiros, forjadores,
ourives, tecelões, vendeiros, administradores e militares se desenvolveram [1].
Nos ofícios de ourives de ouro e prata o rigor na regulamentação do oficio era
maior do que nos demais ofícios. Nestes não se admitiam pretos conforme Alvará
Régio de 20 de novembro de 1621. De 1625 a 1881 são registrados como ourives
nas irmandades de Salvador apenas dois pardos e um crioulo em 1862. Uma carta
dirigida ao juiz de fora da capitania de Pernambuco em 1732 revela que “Sabemos que a ourivesaria brasileira
colonial esteve em grande parte nas mãos de mulatos e pretos” e considerava
“excessivo o número de oficiais ourives
que existiam em Olinda, no Recife e em outros lugares, sendo a maior parte
deles mulatos e negros, e ainda escravos, contra a lei, resultando disso
gravíssimo dano à república”.[2] Segundo Salomão Vasconcelos o trabalho dos artífices em Vila Rica não possuía
qualquer regulamentação até 1725 inexistindo qualquer corporação de artesãos.
Com a intensificação da atividade mineradora do ouro, o ofício de ourives passou
a ser regulado com maior severidade pela metrópole porque facilitava o
descaminho do ouro permitindo fraudar o pagamento do quinto. Já em 1698 a coroa
determinou que apenas dois ou três ourives poderiam ter permissão para exercer
seu ofício no Rio de Janeiro.[3] Uma lei de 1719 condenava os ourives de São Paulo e MInas que fossem
encontrados ao degredo de seis anos na Índia com o confisco de todos os seus
bens. [4] O exercício do ofício foi proibido em 31 de julho de 1751 em Minas Gerais que
mandava sair da capitania todos os ourives [5],
medida ampliada por carta régia de 30 de julho de 1766 para Bahia, Pernambuco e
Rio de Janeiro.[6] Neste
mesmo ano centenas de ourivesarias foram fechadas.[7] Quem infringisse tais disposições seria degredado para África por toda a vida. Contudo,
em 1751 Carta do governador ao intendente de Sabará comunica que, tendo em
vista a falta de fundidores na Comarca resolve permitir a permanência do
ourives Jorge Ferreira da Silva [8].
Antonio Alvares da Cunha, conde da Cunha (1763 – 1767) e vice rei do
Brasil executou com firmeza a ordem
régia lançando na miséria centenas de
famílias e sem conseguir contudo evitar o contrabando.[9] Em 1783 Juan Francisco Aguirre reporta a presença de lapidadores de diamentes e
ourives no Rio de Janeiro.[10] Para as casas da moeda e fundições de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e São
Paulo admitiam-se apenas mestres de “ilibado
caráter”.[11] Na
Bahia Gomes Freire de Andrade em laudo de 1751 proibe a existência de ourives
no Brasil.[12] No século XVIII o ourives francês Jean Delane chegou a Vila Rica casando-se com
a brasileira Maria de Jesus aportuguesando seu nome para João de Lana.[13] Luiz Edmundo relata que com a medida, o consequente fechamento de oficinas de
ourives os artífices tiveram de procurar outro ofício de modo que para
desamassar a asa de um bule de prata o carioca tinha de enviar o produto para
Lisboa.[14] Em 1781 a Irmandade de Santo
Eloy, protetora dos ourives e prata, notificou seus irmãos a marcarem suas
peças de ouro e prata como prova de sua procedência em meio a tantas
falsificações. Entre aos artesãos brasileiros muitos se destacaram como José
Teófilo de Jesus, Silvestre de Almeida Lopes, José Patrício da Silva Manso
entre outros. O talentoso ourives Manuel Dias de Oliveira fixou-se no Rio de
Janeiro em 1763 vindo a desenvolver sua técnica na Real Casa Pia em Lisboa e
posteriormente na Academia de São Lucas em Roma, retornando ao Brasil em 1800
como professor régio de desenho no Rio de Janeiro, tornando-se conhecido como
“o Brasiliense” em Portugal e “o Romano” no Brasil. [15] A figura mostra página do dicionário “Marcas
de Contrastes e Ourives portugueses” que inclui centenas de marcas entre as
quais ourives brasileiros sendo as marcas usadas para indicar a qualidade da prata usada, o
contraste e localidade.
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