sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Canoas indígenas

 

Varnhagen aponta indícios de comércio entre os povos da Amazonia com os povos quíchuas vizinhos pelas trilhas encontradas por Orellana, os maués do rio Negro negociam com canoas e armas, no entanto a organização das comunidades indígenas era a de uma “verdadeira fraternidade comunista”.[1] Spix refere-se às canoas de jatobá feita pelos índios caiapós, facilmente transportadas de um rio a outro.[2] Louis Baudin também menciona o contato entre incas e povos araucãs / arawak [3] da Amazônia. [4] Américo Vespúcio ao percorrer os rios da região Amazônica no século XVI reporta a presença de “canoas muito bem feitas”. [5] Em sua carta Pedro Vaz de Caminha se refere as embarcações dos índios como almadias “as quais não são feitas como as que eu já vi; somente são três traves, atadas entre si. E ali se metiam quatro ou cinco”. [6] Segundo Frei Vicente Salvador em sua História do Brasil: “Mas os índios naturais da terra as embarcações de que usam são canoas de um pau só, que lavram a forro e ferro; e há paus tão grandes que ficam depois de cavadas com dez palmos de bocas de bordo a bordo, e tão compridas que remam a vinte remos por banda”. Evreux descreve as canoas construídas a partir de troncos de árvore cortadas bem rente à raiz, rachada ao meio sendo o interior oco com uso de cavacas feitas de uma árvore chamada ubiragara. Conseguia-se desta forma canoas de até setenta palmos e capacidade de trinta pessoas segundo o relato de Thevet em 1555. [7] Jean Lery (1536-1613) se refere aos costumes indígenas de navegara pelos rios: “se vão por água, como fazem muita vez, beiram sempre a costa, e não penetram muito no mar, mantendo-se nas suas barcas, chamadas igara, feitas de uma só casca de árvore, propositalmente arrancada de cima a baixo para este fim, e todavia são tão grandes que quarenta ou cinquenta pessoas podem caber dentro de cada uma delas. Viajam assim todos em é ao seu modo com um remo chato nas duas extremidades, o qual seguraram no meio: essas barcas, chatas como são, não lama na água mais do que calaria uma tabua, e são muito fáceis de dirigir e manejar. Verdade é que não poderiam suportar mar alto e agitado, e menos a tormenta, mas quando em tempo calmo os nossos selvagens vão à guerra, vereis às vezes mais de sessenta canoas formando toda uma frota, os quais, seguindo próximas uma das outras, correm tão rápidas, que em pouco momentos as perdemos de vista” [8]. O padre Simão de Vasconcelos incorre em exagero quando menciona canoas indígenas capazes de transportar 150 guerreiros. O dicionário do padre Rafael Bluteau de 1712 descreve canoa como “Embarcação, de que usam os gentios da América para a guerra, de que mais se aproveitam os moradores para o serviço, pela pouca água que demandam e pela facilidade com que navegam(...). Cada qual se forma de um só pau comprido e boleado, a que tirada a face de cima, arrancam todo o âmago, e fica a moda de lançadeira de tear, e capaz de vinte ou trinta remeiros”. O Almirante Antônio Alves Câmara, em Ensaio sobre as Construções Navais Indígenas do Brasil de 1888 afirma que “a origem desta palavra [canoa] é americana, das caraíbas”. Clóvis da Costa Rodrigues argumenta que as canoas foram fundamentais para exploração da bacia do Amazonas para além do Tratado de Tordesilhas, facilitada pela construção de canoas a partir dos troncos das gigantescas ubás de excepcional diâmetro.[9] Ao pesquisar os tupinambás Florestan Fernandes conclui “As técnicas de navegação eram igualmente eficientes. Os tupinambás, dentro dos limites impostos por seu equipamento material, foram grandes navegadores. Metraux os considera como os mais hábeis da América do Sul.. De fato conheciam bem a arte da navegação, e dispunham de excelente equipamento material. Usavam canoas e jangadas. Estas eram usadas somente na pesca, transportando apenas um homem. Aquelas eram verdadeiramente importantes, comportando grande número de tripulantes”. [10]

[1]VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. I, p. 53

[2]NASH, Roy. A conquista do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1939, p. 279

[3]COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 156

[4]BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 267

[5]WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 202

[6]http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.pdf

[7]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 82

[8]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.250

[9]RODRIGUES, Clovis da Costa. A inventiva brasileira, v. 1, Brasília: Instituo Nacional do Livro, 1973, p. 280

[10]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 83



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