Varnhagen aponta indícios de comércio entre os povos
da Amazonia com os povos quíchuas vizinhos pelas trilhas encontradas por
Orellana, os maués do rio Negro negociam com canoas e armas, no entanto a
organização das comunidades indígenas era a de uma “verdadeira fraternidade
comunista”.[1] Spix refere-se às canoas de jatobá feita pelos índios caiapós, facilmente
transportadas de um rio a outro.[2] Louis
Baudin também menciona o contato entre incas e povos araucãs / arawak [3] da
Amazônia. [4] Américo
Vespúcio ao percorrer os rios da região Amazônica no século XVI reporta a
presença de “canoas muito bem feitas”. [5] Em sua
carta Pedro Vaz de Caminha se refere as embarcações dos índios como almadias “as
quais não são feitas como as que eu já vi; somente são três traves, atadas
entre si. E ali se metiam quatro ou cinco”. [6] Segundo Frei Vicente Salvador em sua História do Brasil: “Mas os índios
naturais da terra as embarcações de que usam são canoas de um pau só, que
lavram a forro e ferro; e há paus tão grandes que ficam depois de cavadas com
dez palmos de bocas de bordo a bordo, e tão compridas que remam a vinte remos
por banda”. Evreux descreve as canoas construídas a partir de troncos de
árvore cortadas bem rente à raiz, rachada ao meio sendo o interior oco com uso
de cavacas feitas de uma árvore chamada ubiragara. Conseguia-se desta forma
canoas de até setenta palmos e capacidade de trinta pessoas segundo o relato de
Thevet em 1555. [7] Jean Lery (1536-1613) se refere aos costumes indígenas de navegara pelos rios: “se
vão por água, como fazem muita vez, beiram sempre a costa, e não penetram muito
no mar, mantendo-se nas suas barcas, chamadas igara, feitas de uma só casca de
árvore, propositalmente arrancada de cima a baixo para este fim, e todavia são
tão grandes que quarenta ou cinquenta pessoas podem caber dentro de cada uma
delas. Viajam assim todos em é ao seu modo com um remo chato nas duas
extremidades, o qual seguraram no meio: essas barcas, chatas como são, não lama
na água mais do que calaria uma tabua, e são muito fáceis de dirigir e manejar.
Verdade é que não poderiam suportar mar alto e agitado, e menos a tormenta, mas
quando em tempo calmo os nossos selvagens vão à guerra, vereis às vezes mais de
sessenta canoas formando toda uma frota, os quais, seguindo próximas uma das
outras, correm tão rápidas, que em pouco momentos as perdemos de vista” [8]. O padre
Simão de Vasconcelos incorre em exagero quando menciona canoas indígenas
capazes de transportar 150 guerreiros. O dicionário do padre Rafael Bluteau de
1712 descreve canoa como “Embarcação, de que usam os gentios da América para
a guerra, de que mais se aproveitam os moradores para o serviço, pela pouca
água que demandam e pela facilidade com que navegam(...). Cada qual se forma de
um só pau comprido e boleado, a que tirada a face de cima, arrancam todo o
âmago, e fica a moda de lançadeira de tear, e capaz de vinte ou trinta
remeiros”. O Almirante Antônio Alves Câmara, em Ensaio sobre as Construções
Navais Indígenas do Brasil de 1888 afirma que “a origem desta palavra
[canoa] é americana, das caraíbas”. Clóvis da Costa Rodrigues argumenta que
as canoas foram fundamentais para exploração da bacia do Amazonas para além do
Tratado de Tordesilhas, facilitada pela construção de canoas a partir dos
troncos das gigantescas ubás de excepcional diâmetro.[9] Ao
pesquisar os tupinambás Florestan Fernandes conclui “As técnicas de
navegação eram igualmente eficientes. Os tupinambás, dentro dos limites
impostos por seu equipamento material, foram grandes navegadores. Metraux os
considera como os mais hábeis da América do Sul.. De fato conheciam bem a arte
da navegação, e dispunham de excelente equipamento material. Usavam canoas e
jangadas. Estas eram usadas somente na pesca, transportando apenas um homem.
Aquelas eram verdadeiramente importantes, comportando grande número de
tripulantes”. [10]
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