segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

As descobertas portuguesas e o preço das especiarias

 

A conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 fez com que Veneza obtivesse deles o monopólio do comércio das especiarias para a Europa. Com a expansão otomona os pedágios cobrados para o transporte de especiarias elevaram em torno de 800% o custo pelas rotas tradicionais.[1] A pimenta vendida a três cruzados o quintal na Índia, era comercializada  no Egito a oitenta cruzados e a muito mais em Veneza. O preço da pimenta que na Índia era de dois cruzados o quintal multiplicava-se por trinta ou quarenta antes de passar às mãos dos venezianos. Roberto Simonsen estima que e a pimenta da Índia era comercializada no mercado de Antuérpia por um preço vinte vezes superior o seu custo no país de origem [2]. A conquista da nova rota comercial com as Indias conquistada pelos portugueses fizeram baixar muito o preço das especiarias, em especial a pimenta [3], muito embora seja um erro imaginar que a rota de especiarias através do Egito e Arábia tenha cessado abruptamente.[4] Em 1503 o preço da pimenta em Lisboa era apenas um quinto do de Veneza [5]. Portugal por sua vez conseguia vender o produto em Lisboa por um preço de dez a quinze vezes maior do que o na Índia. Erasmo envia carta ao rei português queixando-se das elevadas taxas de lucro dos venezianos. Em 1512 a conquista das ilhas Molucas na Indonésia pelos portugueses, a ilha das especiarias, transformou Lisboa em um centro do comércio ultramarino.[6] Tais conquistas portuguesas foram confirmadas pelas bulas Precelsae devotionis (1514) e Praeclara charissimi (1551), que confirmavam e mandavam observar o Tratado de Tordesilhas. O reconhecimento espanhol da conquista portuguesa das Molucas viria apenas em 1529 com a capitulação de Saragoça pela qual a Espanha cedia os direitos as Molucas mediante uma indenização de Portugal. O monopólio do porto de Lisboa leva a Veneza em 1515 a comprar de Lisboa a pimenta que necessitava para consumo interno. As rotas tradicionais chegaram a ser reestabelecidas no final do século XVI superando a nova rota vinda dos navios portugueses [7]. Fernand Braudel observa que os venezianos recuperaram a rota de especiarias pelo Egito cerca de vinte e cinco anos após a viagem de Vasco da Gama, depois de terem sem sucesso tentado participar financiando a aventura dos descobrimentos.[8]

[1]AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.87

[2]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.39

[3]COSTA, Sergio Correa da. Brasil, segredo de Estado, São Paulo:Record, 2001, p. 72

[4]CAMERON, Rondo. A concise economic history of the world, New York:Oxford University Press, 1998, p.121

[5]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.171

[6]ALBUQUERQUE, Manoel. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 156

[7]CAMERON, Rondo. A concise economic history of the world, New York:Oxford University Press, 1998, p.142

[8]FURTADO, Celso, Criatividade e dependência, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p. 176



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