sábado, 5 de dezembro de 2020

Algodão no Brasil imperial

 

No Maranhão Varnhagen aponta que a cultura do algodão prosperou bastante no século XVIII devido a introdução de máquinas nas fábricas [1]. Um alvará do rei português de 1739 autorizava Manuel de Albuquerque e Aguiar e Antonio Pinheiro para construção de uma fábrica de tecidos, porém, o privilégio caducou por falta de cumprimento [2]. Na produção de algodão, as máquinas de descaroçamento de algodão inventadas por Eli Whitney em 1792 e em pleno uso nos Estados Unidos no início do século XIX eram desconhecidas no Brasil[3] Saint Hilaire ao percorrer as principais zonas produtoras do país em 1817 não encontra senão o antiquado processo.[4] Eulália Lobo aponta o uso de descaroçadores datados de 1855.[5] Os primeiros descaroçadores baseados no invento de Eli Whitney chegaram ao Brasil apenas em 1862 com a expansão do algodão diante da guerra de civil nos Estados Unidos [6] em uma importação promovida pela Associação para o Suprimento do Algodão de Manchester ao fazendeiro Jean Jacques Aubertin da província de São Paulo e Superintendente da estrada de ferro Santos Jundiaí em construção [7] de 1860 a 1869. Em 1863 a SAIN introduz os descaroçadores Durand e Emery. A Lidgerwood comercializou as máquinas descaroçadoras do tipo Eagle.[8] Para Jean Aubertin “a introdução da maquinaria aprimora o trabalho e o liga à arte [..] o progresso é a essência da existência do mundo”. [9] Em 1863 Burlamaqui escreve Monografia do Algodoeiro.[10] Com a guerra civil nos Estados Unidos (1861-1865) a Inglaterra buscou suprir sua demanda com ao algodão do nordeste brasileiro [11]. A entrada da Índia no mercado em 1863 e o fim da guerra civil nos Estados Unidos em 1865 levaram a queda do preço do algodão seguido de período de depressão da atividade no Brasil [12]. Na exposição internacional de Paris em 1867 o Brasil conseguiu o prêmio hors ligne pelos progressos na cultura algodoeira [13]. Em 1870 a Associação para o Suprimento de Algodão de Manchester concedeu uma medalha de ouro à província de São Paulo em homenagem ao desenvolvimento na indústria do algodão. Na indústria do algodão o emprego de máquinas agrícolas cabia a iniciativa de agricultores imigrantes norte americanos estabelecidos em Campinas, Limeira e Santa Bárbara no século XIX [14]. Segundo Sérgio Buarque de Holanda: “o espírito de rotina explicaria, para muitos, o apego persistente aos processos fastidiosos e fatigantes que tinham dominado no preparo do produto indígena para a fiação e tecelagem. Mas, além do conservantismo há de ter contribuído, para tais resistências, a noção, ainda confusa, talvez, em certos casos, de que os métodos tradicionais eram os mais adequados aos tipos de algodão de fibra longa, que, durante o período colonial, prevaleceram geralmente entre nós, mesmo nas capitanias do sul. Baseando-se, com efeito, em um sistema de serras circulares que cortam e estragam os fios, os inconvenientes da nova máquina [de Whitney de 1792] só se evitaram, em parte mais tarde, a ainda assim nos lugares onde o algodão da terra foi substituído por variedades diferentes e mais adaptáveis ao seu uso” [15]”.

[1]VARNHAGEN, Francisco. História geral do Brazil, v.2, Rio de Janeiro : Laemmert, 1877, p. 968

[2]LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 143

[3]MOTOYAMA, Shozo. Prelúdio para uma história: Ciência e Tecnologia no Brasil, São Paulo: Edusp, 2004, p. 143, RODRIGUES, Clóvis. A inventiva brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1973, p. 183.

[4]JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.139

[5]LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. História político administrativa da agricultura brasileira, 1808-1889, Brasília: Ministério da Agricultura, 1980, p.26

[6]HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971, p.114

[7]CANABRAVA, Alice. O algodão em São Paulo 1861-1875, São Paulo: TA Queiroz, 1984, p.181, 191

[8]LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. História político administrativa da agricultura brasileira, 1808-1889, Brasília: Ministério da Agricultura, 1980, p.78

[9]GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 18, 73, 243

[10]CANABRAVA, Alice. O algodão em São Paulo 1861-1875, São Paulo: TA Queiroz, 1984, p.28

[11]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.172

[12]LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. História político administrativa da agricultura brasileira, 1808-1889, Brasília: Ministério da Agricultura, 1980, p. 142

[13]CANABRAVA, Alice. O algodão em São Paulo 1861-1875, São Paulo: TA Queiroz, 1984, p.30, 84

[14]CANABRAVA, Alice. O algodão em São Paulo 1861-1875, São Paulo: TA Queiroz, 1984, p.159

[15]HOLANDA, Sérgio Buarque. Caminhos e Fronteiras, Rio de Janeiro:José Olimpio, 1957, p.271



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