domingo, 8 de novembro de 2020

Villard de Honnecourt

 

O arquiteto Villard de Honnecourt escreveu seus textos enquanto viajava como mestre de obras em que pode observar as técnicas usadas na construção das grandes catedrais góticas de Rheims e Chartres.[1] Villard descreve com orgulho seu trabalho como reflexo de uma longa tradição na família: “Nesse livro você poderá encontrar os engenhos do bom fidalgo Alessis Fullibien, meu avô, o qual se chama o senhor de Montgnie, você lembre dele e de toda sua linhagem de arquitetos”.[2] Ao viajar para  Hungria Villard de Honnecourt foi feito prisioneiro pelos tártaros e foi ourives do grande Khan na China difundindo suas técnicas. [3] Jacques Verger observa que a valorização do conhecimento técnico manual encontrado na obra de Villard de Honnecourt tornou-se tão célebre como isolado.[4] Villard de Honnecourt foi o primeiro a desenhar um parafuso combinado com uma alavanca, ou seja, um macaco, capaz de içar fardos nas construções das catedrais [5]. A serra de Villard de Honnecourt é apontada por Lynn White [6] como o primeiro dispositivo totalmente automático [7]. Usher descreve tal mecanismo como movido por força hidráulica.[8] Villard de Honnecourt em texto de 1230 descreve o esboço de um incensário redondo que pode girar em qualquer direção sem que seu conteúdo seja derramado, baseado na utilização de uma junta universal. Outro dispositivo citado era um aquecedor que não tombava, baseado no mesmo princípio, e que era usado para aquecer o interior das igrejas.[9] Nos cadernos de anotações de Villard de Honnecourt alguns dos bem guardados segredos dos mestres construtores como o método para elevar um objeto a partir de um plano que se tornaria público apenas em 1486 quando o arquiteto Mathias Roriczer publicou Sobre a Ordem dos Pináculos.[10] Jean Delumeau observa que tanto o caderno de apontamentos de Villard  de Honnecourt no século XIII como o tratado militar de Guy de Vigevano no início século XIV fazem referências a maquinismos da antiguidade grega da escola de Alexandria o que mostra que o Renascimento tinha como referência a obra dos antigos.[11]

[1]FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.118

[2]CARREIRA, Eduardo. O pincel invisível do pintor: notas sobre o simbolismo iniciático nas artes medievais. In: RIBEIRO, Maria Eurydice. A vida na idade média, Brasília:UNB, 1997, p. 92 http://periodicos.unb.br/index.php/textos/article/download/5722/4728

[3]CASTELNUOVO, Eurico. O artista. In: LE GOFF, Jacques. O homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.159

[4]VERGER, Jacques. Homens e saber na idade média, Bauru:EDUSC, 1999, p. 37

[5]GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.109; SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.647; LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 189

[6]WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.80

[7]BONILLA, Luis. Breve historia de la técnica y del trabajo, Madrid:Ed. Istmo,1975, p.150; LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 199

[8]USHER, Abbott. Uma história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 248

[9]READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.70

[10]CARVALHO, Nuno. A estrutura dos sistemas de patentes e de marcas: passado, presente e futuro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 191

[11]DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.151



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