quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Tecnologia medieval na China

 

O primeiro relógio de escape foi construído no ano 724 por Lyang Lingdzan [1]: a água fluindo para dentro de conchas acionava automaticamente uma roda, que fazia uma revolução completa em um dia e uma noite. O monge budista Yi Xing em 725 inventou um relógio mecânico dotado de uma roda movida pela força hidráulica que faz dar uma volta completa em 24 horas a uma esfera que representa a Terra, em redor desta esfera dois globos que representam a Lua e o Sol movimentam-se em um círculo de modo que a cada 29 voltas mais uma ração sol e lua se encontram.[2] Em 976 d.c Chang Su-Hang inventou a transmissão por correia para uso em um relógio mecânico. Seu sucessor o relojoeiro Su Sung adotou a transmissão por correia em seu imenso relógio astronômico em 1090 de cinco andares chamando-o de “escada celeste”.[3] O relógio foi construído para o imperador Shen Dzung e era montado sob uma torre de 12 metros e baseado no enchimento de água em conchas.[4] O focial do governo chinês Su Song inventou em 1094 a correia dentada, um sistema de transmissão por correia sem fim em que os elos da correia se encaixavam em dentes sem deformar os escorregar e um mecanismo de escape [5]. A torre era equipada com uma esfera armilar acionada por um relógio.[6] O mecanismo é descrito nas memórias do imperador com detalhes que permite a sua reconstrução.[7] Em 1126 a dinastia dos Sung foi expulsa de Pequim pelos tártaros e Su Song refugiou-se no sul do país sem poder levar seu relógio ou construir um devido a falta de técnicos habilitados. Em Pequim o relógio, sem conservação, acabou destruído na dinastia Ming em 1368 [8] considerado como “uma extravagância inútil”.[9] Trata-se de um artefato que se perdeu sendo redescoberto séculos mais tarde. [10] No século XIII diversas guildas chinesas organizavam a atividade dos artesãos garantindo padrões de qualidade mínimos e atuando como sociedade beneficentes.[11] Uma máquina de enrolar cânhamo movida a água foi descrita por Wang Chen em 1313, no entanto, nem esforço foi feito para adaptar a máquina para o algodão que se tornava cada vez mais a fibra padrão na indústria têxtil. Mark Elvin cita este exemplo para demonstrar que a tecnologia embora indispensável para o desencadeamento de uma revolução na produção não constitui uma causa suficiente em si.[12]

[1]CHILDRESS, David Hatcher. A incrível tecnologia dos antigos, São Paulo:Aleph, 2005, p. 31; CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 327

[2]IANNACCONE, Isaia. Ciência e técnica na China. In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.485

[3]TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.350; McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.133,135

[4]CHILDRESS, David Hatcher. A incrível tecnologia dos antigos, São Paulo:Aleph, 2005, p. 33; RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.44, 49 https://en.wikipedia.org/wiki/Su_Song

[5]MAHAJAN, Shobhit. História das invenções, Berlim:Verlag, 2008, p. 31; TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 70

[6]RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.50; BOORSTIN, Daniel. Os descoridores. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p. 68

[7]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 329

[8]GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.129

[9]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 330

[10] CHALLONER, Jack. 1001 invenções que mudaram o mundo. Rio de Janeiro:Ed. Sextante, 2010.p147

[11] CLARK, Peter. A evolução das cidades, História em Revista, Rio de Janeiro:Time Life, 1993, p.79

[12] ELVIN, Mark. A China como contrafatual. In: BAECHLER, Jean. Europa e ascenção do capitalismo, Rio de Janeiro: Imago, 1989, p. 119



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