Sob o reinado de Balduíno V (1035-1067) os progressos técnicos na construção de diques já eram significativos para que o arcebispo de Reims felicita o conde por ter transformado regiões, até então improdutivas em terras férteis. O aumento do rendimento agrícola é alcançado com a multiplicação das lavras, emprego de adubos, aperfeiçoamentos dos instrumentos de ferro [1], invenção da gadanha, uma lâmina curva afiada no lado de dentro e com um cabo comprido de madeira uma melhoria considerável em relação à foice de cabo curto que permite que o segador fique ereto enquanto corta o capim e se canse menos.[2] O pesado arado arrastado por bois, invenção já descrita por Plínio o Velho no primeiro século da era cristão, permitia que apenas dois homens arassem um acre inteiro com ajuda de animais que também fertilizavam a terra com seu estrume. Lynn White aponta o século X como período de inovações decisivas na agricultura em especial o sistema trienal de cultura (divisão da terra em três partes iguais permanecendo uma das partes em pousio) que permitiu a introdução intensiva de plantas ricas em proteínas como a fava, lentilha e ervilha, a invenção da charrua de rodas e aiveca, a difusão da atrelagem moderna que permite melhor utilizar a tração nos cavalos [3]. Michael Mann mostra que a alternância de solos seja no sistema de “dois solos” ou “três solos” bem como uso do arado e utilização animal não se tratou apenas de inovação técnica mas envolveu também uma intensiva organização social pois uma unidade agrícola do tamanho de uma aldeia ou casa senhorial podia cuidas de sua utilização na forma de cooperativa [4]. As pressões por inovações contudo ficaram minimizadas até que houvesse uma demanda por aumento de produtividade mais forte com o surgimento das cidades no século XI e XII. [5] Esta fase foi bem descrita por Rudulfus Glaber um monge de Borgonha ao escrever em 1033: “Toda a superfície da terra ficou coberta de um agradável verdor e uma abundância de frutos expulsou a fome”. [6] Para Georges Duby estas inovações foram responsáveis diretas para o aumento populacional observado entre os séculos X e XIII.[7] Segundo Lynn White: “Entre a primeira metade do século VI e o final do século IX, o norte da Europa criou ou recebeu uma série de invenções que rapidamente se transformaram num sistema inteiramente novo de agricultura. Em termos de trabalho do camponês, este foi de longe o período mais produtivo que o mundo já teve”. Hilário Franco observa que a agricultura medieval atingiu no século XIII um nível técnico médio equivalente ao do início do século XVIII, o que revela que o ritmo das inovações diminui neste intervalo.[8]
[1]LE GOFF, Jacques. Para
uma outra idade média, Petrópolis: Vozes, 2013, p.111
[2]CHALLONER, Jack. 1001
invenções que mudaram o mundo. Rio de Janeiro:Ed. Sextante, 2010, p. 157
[3]LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 51, 199
[4]MANN, Michael. Desenvolvimento europeu: uma abordagem histórica. In: BAECHLER,
Jean. Europa e ascenção do capitalismo, Rio de Janeiro: Imago, 1989, p. 17
[5]LACEY, Robert; DANZIGER, Danny. O ano 1000: a vida no final do primeiro
milênio. Rio de Janeiro:Campus, 1999, p.20
[6]CLARK, Peter. A
evolução das cidades, História em Revista, Rio de Janeiro:Time Life, 1993, p.87
[7]JUNIOR, Hilário Franco.
A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 2004, p. 27
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