segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A púrpura de Tiro

 

Os fenícios destacam-se pelo uso do corante púrpura extraído de um molusco encontrados na costa da Síria e conhecido como murex trunculus ou murex brandaris [1]. As ilhas Canárias e Madeira conquistadas pelos fenícios em 530 a.c pelo navegador Hano eram ricas deste corante, a “rocella tinctoria”.[2]  O corpo mole e incolor do caracol se transformava em púrpura à luz do sol.[3] Hano relata ter alcançado o monte “carro divino”, expressão a que Plínio também faz menção [4] e que se acredita tratar de um vulcão, possivelmente o Monte Camerum.[5] Heródoto se refere aos comerciantes  de Creta onde a púrpura de Tiro era muito apreciada [6]. Sérgio Buarque de Holanda aponta que possivelmente tais corantes não poderiam se originar somente do murex, mas de algum conhecimento hoje perdido.[7] O termo “fenício” é grego de phoinix [8], phenos – sangue vermelho, possivelmente em referência à “púrpura fenícia” tintura fabricada com moluscos em Tiro [9]. Os cidadãos que o produziam passaram a ser chamados Phoinikes.[10] José Inácio Lima relata uma versão para origem de tal corante: “Um pastor fenício apascentando o seu rebanho nos arredores de Tiro, sobre as bordas do mar, observou que o seu cão trazia o focinho tinto de um encarnado muito subido, que ele julgou ser sangue; e crendo que o cão estava ferido, quis estancar o suposto sangue limpando-o com uma pouca lã; porém qual não foi sua admiração quando viu que a lã tomava a cor do mais belo escarlate, e que o cão não estava ferido ! Mostrando na cidade esta cor, agradou geralmente, tanto que o pastor começou a observar de onde poderia ter nascido aquela feliz casualidade e chegou a descobrir que um molusco, lançado pelo mar nas praias de Tiro, e que seu cão tinha naturalmente esmagado com a boca, continha um suco ou matéria colorante, que dava tão belo matiz. Em pouco tempo foi a púrpura de Tiro tão afamada que a antiguidade a considerou como uma das coisas mais preciosas a tal ponto que só os reis e alguns homens excessivamente ricos podiam usá-la”.[11]

[1] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.144; MATTOSO, Antonio. História da civilização, Lisboa:Ed Sá da Costa, 1952, p.174; SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p.109; MASPERO, Gaston. History Of Egypt, Chaldæa, Syria, Babylonia, and Assyria, v. 4, London:Grolier Society, 1896. http://www.gutenberg.org/files/17324/17324-h/17324-h.htm

[2] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 83

[3] KELLER, Werner, E a Bíblia tinha razão, São Paulo: Melhoramentos, 1964, p.188

[4] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 125

[5] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 85

[6] FORBES, R. Chemical, culinary and cosmetic arts. SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.I, Oxford, 1956, p.247

[7] HOLANDA, Sérgio Buarque. Visões do Paraíso, São Paulo;Brasiliense, 1994, p. 152

[8] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 121

[9] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.254; HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 83

[10] CHIERA, Giovanna. I fenici mercanti e avventurieri dell antichitá, Roma: Newton Compton Ed., 1979, p. 16

[11] LIMA, José Inácio de Abreu. Historia universal desde os tempos mais remotos até os nossos dias. Rio de Janeiro: Laemmert, 1847, p.230 Biblioteca José Midlin; CANTU, Cesare. História Universal, v. II, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.13



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