quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Shaduf

 

Um dispositivo chamado shaduf (cegonha [1]) ou cigonal[2]  introduzido no final da XVIII dinastia por volta de 1350 a.c. conforme arte de El Amarna[3], e que usa o princípio da alavanca [4] era usado em um sistema de elevatória da agua nos canais de irrigação [5], no entanto o mecanismo permitia elevar a água em apenas 3 metros, e ademais seu trabalho era tão intensivo que se limitava as culturas hortícolas ou para elevar as águas dos pântanos [6]. Com o cigonal um homem podia levantar cerca de 2500 litros de água a uma altura de dois metros em apenas um dia. Para irrigar as terras que a inundação não alcançava as águas eram retidas em tanques que eram abertos periodicamente para que todos os campos pudessem ser irrigados.[7] Embora fosse mais fácil de puxar o balde com uma corda, a força usada para usar um shaduf ainda era considerável, possivelmente de origem dos hicsos,[8] expulsos de forma definitiva em 1532 a.c. [9] O uso do shaduf permitia ampliar a área cultivável em aproximadamente 10 a 15 %.[10] A procedência do shaduf era a Mesopotâmia onde foi encontrado representado em um selo cilíndrico acádio datado de 2370-2200 a.c.[11] Um relevo no palácio de Senaqueribe em Nínive mostra o uso do shaduf [12]. Outro mecanismo usado no Egito no século II a.c. para obtenção de água de poço era a sakia ou saqiya, um mecanismo giratório, acionado por um animal atrelado a uma roda motriz na horizontal engrenada a outra roda, na vertical, que girava presa a diversos baldes [13], o qual Vitrúvio devia conhecer pois descreve uma variante do mesmo.[14] Ao chegarem ao fundo de sua trajetória os baldes recolhem água que vertem ao chegar no ponto mais alto, a três ou quatro metros de altura, numa calha de madeira que direciona a água para os campos de irrigação. Com a sakia um único homem podia enviar às plantações milhares de litros de água por dia [15]. Com a saqiya permite extrair água de 3,5 a 7,5 metros de profundidade e sua origem teria sido no Egito ou na Pérsia.[16] Uma tumba romana em Alexandria do segundo milênio mostra uma saqiya movida por bois.[17] O tanbur / tambur  era um parafuso de Arquimedes usado para elevação da água através de uma hélice que girava dentro de um cilindro inclinado [18] para irrigação em pequena escala.[19] No armazenamento de água em grandes reservatórios de cerâmica observa-se o uso de sifões na XVIII dinastia.[20] Ronaldo Wright observa que em três mil anos as únicas inovações importantes no Egito foram o shaduf por volta de 1300 a.c. e a roda hidráulica sagiya por volta de 300 a.c.. Ferramentas de pedra como facas e foices ainda eram usados em meados dos tempos imperiais. [21] Brian Fagan mostra que no Egito a irrigação era uma iniciativa local fora do controle do governo central [22] No plaácio de Senaquerib entre os assírios há a representação do uso do um shaduf para irrigação datado do século VII a.c. em linha ao longo de um mesmo rio, no entanto não há evidência de uso similar de mais de um shaduf  por rio entre os egípcios.

[1]CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.33

[2]DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.79

[3]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 99; CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito antigo. Coleção Tudo é história, n° 36, São Paulo:Brasiliense, 1986, p.27

[4]USHER, Abbott. Uma história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p.169, 177; CLARK, Grahame. A pré história, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p. 191

[5]LEWIS, Brenda. Great civilizations, Parragon:London, 1999, p.104; RAWLINSON, George. A history of ancient Egypt, London, 1881, p. 166; STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 97; WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 160

[6]BAINES, John; MALEK, Jaromir. O mundo egípcio:deuses, templos e faraós. Rio de Janeiro, Edições del Prado, 1997, p.17

[7]NOVION, Hubert. Sakarah. Readers's Digest. As grandes civilizações desaparecidas, Lisboa:1981, p.24

[8]READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.61; HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.102

[9]CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito antigo. Coleção Tudo é história, n° 36, São Paulo:Brasiliense, 1986, p.65

[10]STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 95

[11]HODGES, Henry. Technology in the ancient world, New York: Barnes & Noble Books, 1970, p. 118

[12]STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 97; ROAF, Michael. Mesopotâmia v.I, Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 125

[13]READERS'S DIGEST. Da idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro, 2010, p.63

[14]DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.362

[15]DEARY, Terry. Espantosos egípcios, São Paulo:Melhoramentos, 2004, p. 92

[16]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 99

[17]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 100

[18]STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 97

[19]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 99

[20]USHER, Abbott. Uma história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p.132

[21]WRIGHT, Ronald. Uma breve história do progresso, São Paulo:Record, 2007, p.196

[22]FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 100



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