sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Rodas do rosário

 

Claudio Manuel da Costa deixou registrado em seu poema Vila Rica [1], em uma nota de página o registro da introdução de rodas para esvaziamento das catas, conhecida como “rodas do rosário”  no ano de 1711, por um clérigo alcunhado “Bonina Suave”, em que se erigia no mesmo lugar a Vila Rica de Albuquerque [2]. O mecanismo era formado por duas rodas cujo diâmetro variava de quatro a seis metros unidas por tábuas formando recipientes, sendo as rodas movimentadas pela passagem da água que acionava por meio de uma corrente, caixões de madeira abertos e inclinados de modo a mergulhar no rio e subir cheio de lama para depois ir despejando por inclinação seu conteúdo. O mesmo mecanismo também é mencionado pelo mineiro de Serro Frio, João Barbosa Moreira. [3] Lemos Brito observa que antes da vinda de D. João VI as únicas máquinas hidráulicas conhecidas era o rosário. O ouro aproveitado era o que vinha em pepitas, em folhetas ou em pó, pois ainda não se conhecia a extração de metal pelo antimônio ou pelo azougue.[4] Segundo Sérgio Buarque de Holanda: “Só por volta de 1725 se aperfeiçoaria, no entanto, essa máquina, se é exato que em Vila Rica, nesse tempo melhorou-a Manuel Pontes, alcançando logo privilégio para fabricá-la”.[5] Sérgio Buarque de Holanda destaca o pouco empenho dos portugueses em aperfeiçoar as técnicas de mineração, sendo seu interesse maior em montar uma estrutura fiscal para arrecadação de tributos.[6] O governador Antonio de Albuquerque em 1711 se queixa da “necessidade que havia da arte de minerar debaixo de preceito, e que o ouro se não tirava por falta de ciência”. Em 1780 o desembargador José João Teixeira relata o mesmo problema: “sempre os mineiros foram fazendo os serviços minerais a seu arbítrio. Nunca passou a Minas um único engenheiro que pudesse dirigir os mesmos serviços”[7]



[1] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 328

[2]GAMA, Ruy. Engenho e tecnologia, São Paulo: Duas Cidades, 1983, p.135

[3]PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 114

[4]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.120

[5]HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, A época Colonial: administração, economia, sociedade, tomo II, volume 1, São Paulo:Difel, 1982, p. 275

[6]HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, O Brasil monárquico: dispersão e unidade, tomo II, volume 2, São Paulo:Difel, 1964, p. 367

[7]IGLESIAS, Francisco. A industrialização brasileira, Coleção Tudo é história, n° 98, São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 19



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