terça-feira, 3 de novembro de 2020

Os vitrais de Chartres

 

Jacques le Goff observa que até o século XII as igrejas eram relativamente escuras, será com o estilo romântico que se tem a necessidade de clareá-las com as grandes catedrais góticas como os vitrais coloridos  de Saint Chapelle em Paris construída por Luís IX conhecido como São Luís no século XIII.[1] Entre as relíquias vendidas pelo imperador Balduíno II de Constantinopla (invadida pelos cruzados desde 1204) e compradas por Luis IX em 1239 encontram-se a coroa de espinhos usada no calvário de Jesus e fragmentos da Verdadeira Cruz e que vieram a ser guardadas em Saint Chapelle. Nenhum vitral em Saint Chapelle é assinado, no entanto, Louis Grodocki identifica três estilos: o ateliê principal, o ateliê do mestre Ezequiel  e o ateliê do mestre de Judith e Ester.[2] Em Chartres temos um dos vitrais assinado pelo mestre vidreiro Clemente.[3] Alguns dos vitrais em Chartres foram oferecidos aos seus mestres de ofícios como os peleteiros (o vitral de Carlos Magno), sapateiros (o vitral do Bom Samaritano), padeiros e aguadeiros.[4] Jacques le Goff observa que este vitrais que datam do século XIII são o registro de uma época em que há a valorização do trabalho.[5] Segundo uma lenda medieval a catedral de Chartres foi erguida pelos monges cistercienses depois que os templários tiveram acesso aos segredos da sagrada geometria guardada na Arca da Aliança. As distâncias dos pilares e os comprimentos da nave, dos transceptos e dos coros são todas múltiplas do número de ouro, 1,618.[6] A parte mais antiga da catedral de Chartres data de 1145. Um incêndio em 1194 destruiu a igreja, porém, não atingiu sua relíquia mais preciosa, uma túnica que teria sido usada por Maria no dia do nascimento de Jesus e teria sido adquirida em fins do século IX.[7] Para Kenneth Clark “Chartres é a síntese do primeiro grande despertar da civilização europeia. È também uma ponte entre o romântico e o gótico, entre o mundo de Abelardo e o de São Tomás de Aquino, o mundo da curiosidade insaciável e o mundo da ordem sistemática”.[8]



[1]GOFF, Jacques. A idade média explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro:Agir, 2007, p. 49

[2]FINANCE, Laurence. A Sainte Chapelle, Palais de la Cité, Paris, 2008

[3]CASTELNUOVO, Eurico. O artista. In: LE GOFF, Jacques. O homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.159

[4]FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.133

[5]GOFF, Jacques. Trabalho. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 635

[6]WESTWOOD, Jenifer. Lugares Misteriosos, Vol. 1, São Paulo:Ediciones del Prado, 1995, p. 22

[7]FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.128; JUNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 166; CLARK, Kenneth. Civilização, São Paulo:Martins Fontes, 1980, p.78

[8]CLARK, Kenneth. Civilização, São Paulo:Martins Fontes, 1980, p.80



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