Segundo Pedro de Blois: “não se passa das trevas da ignorância para a luz da ciência senão relendo com amor sempre mais vivo as obras dos antigos”[1]. A ideia era antes de tudo buscar a sabedoria perdida do passado do que propriamente partir para busca de conhecimentos novos, e em parte graças a esta filosofia é que chegaram até nós textos de Platão, Aristóteles ou Júlio Cesar zelosamente transcritos por monges copistas.[2] Na entrada do Scriptorium [3] ou oficina para a cópia de livros uma recomendação guiava os trabalhos: “Dignai-vos, Senhor, abençoar esta sala de vossos servos, para que tudo o que eles aqui escrevam possa ser compreendido pela sua inteligência e realizado nas suas obras”, muito embora a escassez de pergaminho no século XIII tenha levado a reutilização de trabalhos clássicos pagãos que foram apagados para aproveitamento em obras religiosas, em manuscritos hoje conhecidos como palimpsestos.[4] Apesar desse zelo Jacques le Goff observa que “o pensamento da antiguidade sobreviveu na Idade Média apenas atomizado, deformado, humilhado pelo pensamento cristão”[5]. Num códice de Cambridge, existe uma página que assinala o apogeu do escriba com retrato do monge Edwinus, sentado na sua escrivaninha, absorvido no seu trabalho e rodeado por uma inscrição enaltecendo o seu trabalho apresentando-o como príncipe dos copistas.[6]
[1]LE GOFF, Jacques. Os
intelectuais na idade média. São Paulo:Brasiliense, 1989, p.23
[2]LACEY, Robert;
DANZIGER, Danny. O ano 1000: a vida no final do primeiro milênio. Rio de
Janeiro:Campus, 1999, p.97; SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da
ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de
Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.150; COSTA, Ricardo da; VENTORIM, Eliane; FILHO,
Orlando Paes. Monges medievais, São Paulo:Planeta, 2004, p.9
[3]COSTA, Ricardo da;
VENTORIM, Eliane; FILHO, Orlando Paes. Monges medievais, São Paulo:Planeta,
2004, p.26
[4]MONROE, Paul. História
da educação. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1974, p.110
[5]LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 101
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