Em 1796 o padre botânico Manuel Arruda da Câmara formado em medicina em Montpellier e com passagem filosofia e ciências naturais na Universidade de Coimbra fundou o Aerópago de Itambé em Recife em Pernambuco [1] considerada a pioneira das lojas maçônicas no Brasil [2]. Segundo Mario Mello em Maçonaria no Brasil publicado em 1909, em 1797 foi fundada a Loja Cavaleiros da Luz na Bahia [3] depois “Virtude e razão” [4]. O Aerópago de Itambé teria influência direta na revolução de 1817 [5]. Dois dos maçons participantes do movimento foram os ingleses Ratcliff e Charles Bowen [6].Embora com ideário iluminista francês não existem evidências de ligações do Aerópago com a Maçonaria.[7] Embora historiadores como Oliveira Lima tenham considerado o Aerópago de Itambém como sociedade maçônica, Amaro Quinta considera esses núcleos secretos por seu caráter político pró independência e não por qualquer vínculo a maçonaria [8]. José Bonifácio fundou a loja maçônica O apostolado em 1822 tornando-se grão mestre enquanto D. Pedro I recebeu o título de Arconte Rei.[9] Nestas sociedades o segredo era regra comum e fundamental: “manter o segredo não era fundamental apenas para garantir a sobrevivência da sociedade maçônica, mas era na verdade um meio de educação moral”. Na Bahia Cipriano Barata, estudante da Universidade de Coimbra e Marcelino de Souza foram denunciados à Inquisição de Lisboa em 1798 por questionarem doutrinas da Igreja, mais tarde dando origem ao movimento da Conjuração Baiana. Joaquim Felício dos Santos mostra que quase todos os conjurados na Bahia eram pedreiros livres. Também encontravam-se entre os conspiradores membros das camadas mais humildes como alfaiates, sapateiros, pedreiros, cabeleireiros, soldados, gravadores, carapinas, ambulantes [10]. Augusto de Lima Júnior em História da Inconfidência Mineira constata a existência de lojas maçônicas em funcionamento na Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais no final do século XVIII e este teria sido um dos pontos de aproximação do movimento mineiro com Thomas Jefferson em apoio a causa dos inconfidentes. A primeira loja maçônica regular a funcionar no Brasil foi a Loja Reunião fundada em 1801 em Praia Grande em Niteroi.[11] Kenneth Maxwell destaca que embora figuras influentes como Hipólito da Costa fossem maçons há poucas provas de que os membros da inconfidência mineira estavam envolvidos com maçonaria.[12] No vale do Paraíba em Vassouras uma loja maçônica foi instalada em 1852. [13] Já no final da monarquia a maçonaria brasileira diante da chamada “questão religiosa” publicou um manifesto em 1872 em que reconhece que “conquanto conserve o uso das cerimônias, símbolos, ornatos, sinais, fórmulas e abreviaturas das seitas maçônicas antigas, como um respeito às tradições, está bem longe de ser uma sociedade secreta, pois os livros , de eu se serve, andam expostos, compra de quem quer que os procure nas livrarias, são anunciados pela imprensa; são anunciadas pela imprensa as suas sessões e os fins principais de suas festividades”.[14]
[1]GOMES, Laurentino.
1822, Rio de Janeiro:Globo Livros, 2015, p.240; SODRÉ, Nelson Werneck. A
história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966,
p. 18
[2]SILVA, Hailton Meira
da. Cultura Geral maçônica, Rio de Janeiro:Menthor, 2009, p.272
[3]GARCIA, Paulo. Cipriano
Barata ou liberdade acima de tudo, Rio de Janeiro: TopBooks, 1997, p.178
[4]CALMON, Pedro. História
da civilização brasileira, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1933, p.156
[5]MICELI, Paulo. O mito
do heroi nacional, São Paulo:Contexto, 1988, p.68; SOUTHEY, Robert. História do
Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.3, p. 430
[6]FIORE, Elizabeth.
Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 61
[7]GONTIJO, Silvana. O
mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.161
[8]QUINTAS, Amaro. In: História Geral da Civilização brasileira, tomo II: O Brasil
Monárquico, vol I O processo de emancipação, BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio, São
Paulo:Difel, p.208-209; AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade
brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.370
[9]AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São
Paulo: Record, 2000, p.409
[10]COSTA, Emília Viotti.
Da monarquia à República: momentos decisivos, São Paulo:Brasiliense, 1987,
p.32, 123; SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na
sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 383
[11]SILVA, Hailton Meira
da. Cultura Geral maçônica, Rio de Janeiro:Menthor, 2009, p.277
[12]MAXWELL, Kenneth. A
devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 232
[13]STEIN, Stanley. Grandeza
e decadência do café, São Paulo:Brasiliense, 1957, p. 147
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