quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Colônia de exploração

 

Caio Prado Jr., em Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pela primeira vez em 1942 defende a tese de que enquanto houveram colônias de povoamento nos EUA, no Brasil tivemos colônias de exploração para explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. Roberto Simonsen já apontara o interesse mercantil de Portugal quando renomeou o país de Terra de Santa Cruz para Brasil. O católico João de Barros já denunciava os interesses mercantilistas: “por artes diabólicas se mudava o nome de Santa Cruz, tão pio e devoto, para o de um pau para tingir tecidos”. Segundo o jesuíta do século XVI: “vergonha que a cupidez do homem, por preocupações do tráfico, substituísse o lenho da cruz, tinto com o real sangue de Cristo, pelo de outra madeira, semelhante somente na cor”.[1]  Segundo Pereira da Silva sobre as conquistas portuguesas na África e na Índia: “Não se tratava de uma conquista regular, ou de uma metódica colonização. Pretendia-se transferir das Índias para Lisboa tudo o que valesse a pena para o reino. Era opinião corrente em Portugal que partia-se para as índias no intento exclusivo de enriquecer-se. Lauto banquete aberto para as cobiças. Voltasse com riquezas e seria considerado e honrado na pátria. Pobre, embora carregado de serviços, ferido no corpo, maltratado da sorte, estava exposto a sofrer prisões e misérias, como sucedera a Duarte Pacheco”.[2] Duarte Pacheco vencera o cerco a Calicute e voltara em triunfo a Portugal em 1505 tendo sido seus feitos na Índia relatados ao papa. De 1519 a 1522 foi nomeado capitão e governador de São Jorge da Mina onde foi acusado de contrabando de ouro tendo sido preso pelo rei português D. João III. Para Roberto Simonsen de uma mera colônia de exploração o Brasil foi se transfigurando em uma colônia mista de povoamento e exploração mais tarde [3]. Roberto Simonsen, porém, aponta que no século XVI as rendas com pau brasil tornavam a colônia deficitária para o erário real.[4] O historiador português João Ameal, ao abordar a mestiçagem de portugueses com mulheres nativas, contudo, tem outra perspectiva: “É pois exato afirmar que Portugal não coloniza, reparte-se, em quantas localidades se instala. Cria outros Portugais, ou melhor: cria províncias fieis ao modelo da Nação-mãe. Reparte sem reservas os seus valores espirituais e éticos, as suas estruturas cívicas, as suas normas de coexistência, os seus métodos de trabalho. Não é, de modo algum, o tipo do Povo-parasita, que se intromete em casa alheia para explorar ou oprimir; é sim, do tipo Povo-irmão: funda novos lares, que, pelos elos estabelecidos com os lares primitivos, lhe asseguram natural posição no meio deles. Enquanto dá ao Mundo novos mundos, insere-se em enraíza-se, em igualdade autêntica de liberdades e faculdades, em conjunto humano fraterno e estável, nesses novos mundos que revela. Assim acontece nas terras da África, assim na Índia e na China, assim na Oceania, assim no Brasil”.[5]



[1]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.64

[2]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.11

[3]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.32

[4]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.92

[5]AMEAL, João. Breve Resumo da História de Portugal, Lisboa: Livraria Tavares Martins, 1964, p.50



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