segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A dessacralização do tempo

 

Para Daniel Boorstin: “Foi por volta de 1330 que a hora se tornou na nossa hora moderna, uma das 24 partes iguais do dia. Media-se pelo tempo entre um meio dia e o seguinte, ou, mais precisamente, pelo que os astrônomos modernos chamam de tempo solar médio. Pela primeria vez na história, uma “hora” adquiria em toda a parte e ao longo de todo o ano um significado preciso”. Ainda assim durante todo o seculo XIV ainda era muito raro os relógios dos campanários terem mostradores de horas uma vez que sua função era a de soar as horas, uma das exceções era o da Catedral de São Paulo (1344) em Londres[1] Em Paris o primeiro relógio público foi construído em 1300 por Pierre Pipelart.[2] No século XIV se observa a multiplicação dos relógios mecânicos com os encontrados em Rouen (1379), Salisbury (1386) e Wellls (1392) e do Palacio de Justiça de Paris [3]. Os relógios mecânicos foram instalados nas torres e catedrais em Paris (1300), Milão (1309), Caen (1314), Florença (1325), Londres (1326), Pádua (1344), Gênova (1325), Bolonha (1356), Siena (1359). O relógio da Catedral de Salisbury, de 1386, é considerado o mais antigo relógio moderno ainda em funcionamento no mundo. O relógio de Salisbury (foto) foi feito sem uma única rosca de parafuso, toda sua estrutura foi unida por rebites.[4] O tempo teológico é banido pelo tempo tecnológico, o tempo que antes era patrimônio de Deus agora é patrimônio da pessoa humana. Segundo Leon Alberti: “existem três coisas que o homem pode definir como suas: a alma, o corpo e o tempo, a coisa mais preciosa [...] tudo o que se perde pode ser recuperado, mesmo o tempo”.[5] Na metade do século XIV o costume de dividir as horas em 60 minutos e 60 segundos já havia se tornado um padrão. Em Praga o Orloj, relógio astronômico, foi construído em 1410.



[1]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.49

[2]GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.130

[3]DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.152, 175

[4]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.73

[5]GUREVIC, Aron. O mercador. In: LE GOFF, Jacques. O homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.187



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