quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Escaravelho egípcio

 

O coração era colocado no chamado “escaravelho do coração” uma peça esculpida em jaspe que tinha grava uma fórmula mágica para que o verdadeiro coração não testemunhasse contra a alma do morto [1]. O escaravelho era o amuleto por excelência entre os egípcios, símbolo das metamorfoses e mutações [2] e o objetivo neste caso era reforçar o coração contra a provação do julgamento final. [3] Um das tradições dos antigos egípcios acreditava que um escaravelho divino, identificado com o deus Khepri [4] (“ele criou a si mesmo”) ou “Khoprer“ (“aquele que vem a ser”) empurrava o sol nascente para nascer no horizonte todas as manhãs, uma vez que o besouro fêmea Scarabeus sacer tem o hábito de depositar seus ovos em bolas de esterco que eram empurradas pelo chão (por este motivo o amuleto do escaravelho também era conhecido como estercorário [5]), um símbolo da regeneração, as bolas de esterco que geram vida eram o disco solar que da mesma forma era empurrado pelo deus Khepri.[6] Khoprer perdeu o “r” no final do Egito Médio para se transformar em Khopri o sol nascente assumindo forma humana com cabeça de escaravelho.[7] O nome egípcio para escaravelho é kheperer que significa “crescer, devir, transformar-se” [8]. Os escaravelhos funcionam como carimbos para selar documento oficiais. [9] Inscrições com o deus Khepri são encontradas no “Livro daquilo que é” e no “Livro das Cavernas” encontrado em Luxor [10]. A bola rolada pelo escaravelho, no entanto, nada mais é que reserva de alimento enquanto que os ovos permanecem guardados numa fenda pela mãe. O fato do escaravelho empurrar essa bola até a fenda e depois virem surgir vários outros escaravelhos alimentava a crença de geração espontânea milagrosa, o que levou a associação com o sol, considerado fonte de toda a vida.[11]

[1]ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.I, São Paulo, 1970, p. 114

[2]JACQ, Christian. O mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.18

[3]HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.176

[4]WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 78

[5]O’CONNEL, Mark, AIREY, Raje. Almanaque ilustrado dos símbolos. São Paulo:Escala, 2010, p.15

[6]TIRADRITTI, Francesco. Tesouros do Egito do Museu egípcio do Cairo, White Star Pub, 1998, p.140, 147; GRIMBERG, Carl. História Universal: a aurora da civilização, v.1, Chile:Publicações Europa, 1989, p. 28; LANGE, Kurt. Pirâmides, esfinges e faraós, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 148

[7]CLARK, Rundle. Símbolos e mitos do Antigo Egito, São Paulo:Hemus, (s.d.), p.34

[8]LAMY, Lucien. Mistérios egípcios, Madri:Prado, 1996, p.14

[9]JACQ, Christian. O mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.175

[10]WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 293,309

[11] EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.27



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