O avanço da tecnologia de relógios na idade média foi tão significativo que o eclesiástico matemático Nicholas Oresme, bispo de Lisieux em 1382, pela primeira vez, utilizou-se da analogia da harmonia do universo como um relógio mecânico com a expressão “machina mundi”. Para Oresme “Se alguém fizesse um relógio mecânico não faria com que as rodas se movessem o mais harmoniosamente possível ?”. Esta mesma expressão aparece em Lucrécio, porém, em um contexto de sarcasmo. Cícero (106-43 a.) faz uma analogia entre máquinas inteligentemente projetadas e o movimento ordenado dos planetas e estrelas: “quando vemos alguns exemplos de um mecanismo [...] acaso duvidamos de que se trate da criação de uma inteligência consciente? Da mesma forma, quando vemos os movimentos dos corpos celestes [...] como podemos duvidar de que esses também não são apenas obras da razão, mas de uma razão que é perfeita e divina”. Robert Grosseteste em De sphere escrita em 1224 usa da mesma metáfora.[1] Kepler em 1605 ao descrever se modelo cosmológico descreve: “O meu objetivo é demonstrar que a máquina celeste não deve ser comparada a um organismo divino, mas antes a um mecanismo de relógio”.[2] A visão mecanicista da natureza de Descartes (1596-1650) mostra a natureza e o corpo humano como a metáfora de um relógio. No século XVII Robert Boyle observa que a metáfora mecanicista do relógio pode aceitar Deus como o grande relojoeiro criador e que mantém todo o universo em funcionamento. A metáfora da Antiguidade da Terra como organismo vivo é substituída pela metáfora da terra enquanto mecanismo [3] Samuel Clarke aluno de Newton por sua vez explica que seu mestre rejeitou a metáfora do relojoeiro: “A ideia do mundo como uma grande máquina, funcionando sem a interposição de Deus, como o relógio funciona sem a assistência do relojoeiro; é a noção do materialismo e destino, e tende a excluir a providência e o governo de Deus na realidade do mundo”.[4]
[2]BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.78
[3]HOOYKAAS, R.. A
religião e o desenvolvimento da ciência moderna. Brasília:UNB, 1988, p.33
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