O livro de
Copérnico Revolutionibus sobre o
heliocentrismo publicado em 1543 alguns dias após sua morte [1] só
recebeu reimpressão em 1566 [2] embora
tenha sido lido nas melhores universidades católicas.[3] Paolo
Rossi mostra que as teses heliocêntricas de Copermico foram primeiro recebidas
por místicos como o cabalista John Dee ou Giordano Bruno. Na Universidade
Salamanca em 1561 ficava a cargo dos estudantes escolher o curso de astronomia
segundo Ptolomeu ou Copérnico sendo muito poucos os que escolhiam este último.[4] Tycho
Brahe rejeitou a astronomia de Copérnico como inaceitável e sua autoridade
constitui um grande obstáculo para difusão do copernicanismo.[5] Embora
alguns autores associem e tese geocêntrica como um reflexo do pensamento antropocêntrico,
Dennis Danielson observa que estar no centro do universo não era visto como uma
glória, mas ao contrário. Maimônides (1135-1204 afirmou que “no caso do
Universo, quanto mais próximas estão as partes do centro, maior é sua turbidez,
solidez, inércia, obscuridade e e escuridão porque mais longe estão do elemento mais elevado, da fonte de luz e brilho”. No comentário ao De Caelo de Aristóteles,
Tomás de Aquino conclui no mesmo sentido: “no universo, a Terra – em torno
do qual todas as esferas circulam e que, como localização, está no centro – é o mais
material e grosseiro de todos os corpos”.[6] Denis
Danielson mostra que ao colocar o Sol no centro do universo Copernico estava
exaltando o homem e rebaixando o Sol segundo esta visão tradicional do centro
status do centro de universo como algo negativo. No entanto Denis Danielson mostra que para
escapar essa acusação Copernico precisou redefinir a posição do centro do
universo como lugar de glória de modo a não rebaixar o Sol quando em seu livro De revolutionibus orbium coelestium apresenta
a tese heliocêntrica exalta a posição do Sol: “Imóvel, no entanto, no meio de tudo está o Sol. Pois nesse mais lindo
templo, quem poria esse candeeiro em outro ou melhor lugar do que esse, do qual
ele pode iluminar tudo ao mesmo tempo ? Pois o Sol não é inapropriadamente
chamado, por alguns povos, de lanterna do universo; de sua mente, por outros; e
de seu governante, por outros ainda [Hermes] o Três Vezes Grande, chama-o de um
deus visível, e Electra, de Sófocles, de onividente”.[7] Para
Frances Yates “o intenso realce dado ao
Sol, nessa nova visão de mundo, era a força propulsora que induziu Copérnico a
empreender cálculos matemáticos, sob a hipótese de que o Sol estava realmente
no centro do sistema planetário; ele desejava tornar aceitável a sua descoberta
apresentando-a dentro do quadro de referências dessa nova atitude”. Para Denis
Danielson a ideia de que modelo heliocêntrico de Copernico destronou o homem de
sua posição privilegiada no centro do universo foi um mito propagado no século
XIX pelo iluminismo como se observa, por exemplo, em Goethe que que em 1810
escreve: “nenhuma descoberta ou opinião jamais produziu maior efeito no
espírito humano que o ensino de Copérnico, pois este obrigou a Terra a abrir
mão do privilégio colossal de ser o centro do universo”.
[1]THOMAS, Henry. Living biographies of great scientists, New York:Blue
Ribbon Books, 1946, p. 32
[2]DELUMEAU, Jean. A
civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.II, p.129
[3]BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.281
[4]ROSSI, Paolo. O Nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 127
[5]ROSSI,
Paolo. O Nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 131
[6]DANIELSON, Dennis. Mito 6: que as ideias de Copérnico removeram os seres
humanos do centro do Cosmos. In: NUMBERS, Ronald. Terra plana, Galileu na
prisão e outros mitos sobre a ciência e religião, Rio de Janeiro: Thomas Nelson
Brasil, 2020, p. 83
[7]RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São
Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.68; STRATHERN, Paul. O sonho de Mendeleiev: a
verdadeira história da química, Rio de Janeiro:Zahar, 2002, p.64, 98; McCLELLAN
III, James; DORN, Harold. Science and technology
on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999,
p.210; BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979,
p.197; BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da
ciência moderna, v.II, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 73; TATON, René. A
ciência moderna: o Renascimento, tomo II, v.I, São Paulo:Difusão, 1960, p. 70;
CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.II ,Grandes Impérios e
Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 132; BURTT, Edwin Arthur. As bases
metafísicas da ciência moderna. Brasília: UNB, 1984, p. 44
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