terça-feira, 6 de outubro de 2020

Os ofícios entre os jesuítas

 

Na Companhia de Jesus o padre Jorge Esteves é apontado como primeiro carpinteiro, também encarregado de administrar fazendas de gado. No início do século XVII a Confraria dos Ofícios mecânicos no Colégio Jesuíta da Bahia contava com apenas oitenta membros.[1] O sapateiro Manoel Gomes é registrado em 1682 na Companhia de Jesus tendo exercido atividades de enfermeiro e farmacêutico. O padre Serafim Leite em sua História da Companhia de Jesus dedica um volume as Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil no período 1549 a 1760. Os artesãos que sabiam consertar moendas e rodas d’ água dos engenhos de açúcar eram muito procurados.[2] José Anchieta foi um fabricador manual de alpercatas, o principal calçado utilizado pelos jesuítas no Brasil colonial: “e sou já bom mestre e tenho feito muitos para os irmãos, porque não se pode cá andar pelos matos com sapatos de couro” [3]. Nóbrega e Anchieta contavam com os irmãos Salvador e Gonçalo Pires que faziam os trabalhos de carpintaria, marcenaria e entalhadores.[4] Uma carta dos jesuítas de 1551 revela a demanda por artífices: “Nesta terra, pela falta que há de oficiais, a necessidade nos faz aprender todos os ofícios”.[5] Anchieta introduziu em São Paulo a fabricação de tecidos para vestir os índios ofício que o jesuíta Vicente Rodrigues ensinou aos próprios índios. Um noviço vindo da Espanha era tecelão e auxiliou-o na tarefa segundo Serafim Leite [6]. Nóbrega contou por cinco anos com o trabalho de um oficial pedreiro Nuno Garcia degredado [7]. O padre Manuel de Paiva que substitui Nóbrega na Bahia ocupava-se em carpintejar e fazer taipas.[8] Em carta de 1549, endereçada a Simão Rodrigues, provincial da Companhia de Jesus em Portugal, o padre Manuel da Nóbrega se referia à ausência de carpinteiros para a construção de edificações: “a terra não oferece facilidade para contratar oficiais mecânicos”.[9]

[1]SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 37

[2]SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 37, 38

[3]BARDI, Pietro Maria. Mestres, artífices, oficiais e aprendizes no Brasil, Banco Sudameris Brasil, 1981, p. 82; NASH, Roy. A conquista do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1939, p. 155

[4]LIMA, Heitor Ferreira. História Político econômica e industrial do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 93

[5]IGLESIAS, Francisco. A industrialização brasileira, Coleção Tudo é história, n° 98, São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 16

[6]LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 149

[7]LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, Rio de Janeiro: Civillização Brasileira, 1938, Tomo I, livro I, p.49

[8]LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, Rio de Janeiro: Civillização Brasileira, 1938, Tomo I, livro I, p.57

[9]FERREIRA, Amarílio; BITTAR, Marisa. Artes liberais e ofícios mecânicos nos colégios jesuíticos do Brasil colonial. Revista Brasileira de Educação v. 17 n. 51 set.-dez. 2012, p.693-751 http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n51/12.pdf



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