Marc Bloch em sua obra A
sociedade feudal descreve a chamada “cultura
do feudalismo” marcada entre outras características pela indiferença pelo
tempo e sua falta de interesse em mensurá-lo acuradamente. [1] O
registro de nascimento era transmitido por uma tradição oral por parte dos
pais. Um negociante declara em 1299 ter nascido em 1254 “segundo a lembrança de minha mãe”.[2] Os
cronistas da época se limitam em geral a se referir a “naquele tempo”, “pouco
depois” sem precisar datas [3]. Lucien
Febvre destaca que o “tempo do relógio” era muito menos significativo que o
“tempo vivenciado” dentro visão de mundo medieval. [4] Jacques
le Goff por sua vez aponta o “tempo dos
tecelões” no século XIV como reorientando a percepção de tempo medieval
diante da nova conjuntura do trabalho marcada pela ascenção social de mestres
artesãos.[5] Jacques
Rossiaud destaca que com a ascenção dos mercadores e das cidades no século XIV desenvolve-se
uma preocupação de se contabilizar tudo. O florentino Lapo di Giovanni
Niccoline contabiliza em 67 anos, 2 meses e 26 dias o tempo em que sua permeneceu
na casa brasonada: “numa cidade mercantil, tudo é ratio; o citadino deve
agir de uma forma razoável, após contabilização e dedução lógica”.[6]
[1]BURKE, Peter. A escola
dos Annales 1929-1989: a revolução francesa da historiografia, São Paulo:Unesp,
1997, p.36
[2]RONCIERE, Charles. A
vida privada dos notáveis toscanos no limiar da Renascença. In: ARIÉS,
Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada: da Europa Feudal à
Renascença, v.2, São Paulo:Cia das Letras, 1990, p.267
[3]LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 159
[4]BURKE, Peter. A escola
dos Annales 1929-1989: a revolução francesa da historiografia, São Paulo:Unesp,
1997, p.41
[5]GOFF, Jacques le. Para
uma outra idade média. Rio de Janeiro:Vozes, 2013, p.89
Nenhum comentário:
Postar um comentário