quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O açucar da Madeira

 

A tecnologia dos engenhos de açúcar foi trazida pelos portugueses da Ilha da Madeira segundo "As Ilhas de Zargo" do padre madeirense Eduardo Pereira. João da Palma, mercador Genovês residente em Lisboa, obteve em 1404, concessão de D. João I para plantar cana-de-açúcar no Morgado de Quarteira no Algarve. Em 1409, juntamente com seu filho Francisco da Palma e com Nicolau da Palma, beneficiou do “aforamento da horta junto ao muro de Loulé para plantação de cana-de-açúcar”, no entanto a dificuldade emem se conseguir água em abundância impediu que a cultura se generalizasse.[1] O primeiro engenho de açúcar português foi construído por Diogo Vaz de Teive, escudeiro do Infante D. Henrique, na ilha da Madeira em 1452. D. Henrique concedeu ao flamengo Jacome de Bruges em 1450 uma donataria na ilha de Açores em que iniciou a produção de açúcar.[2] Em 1472 a cultura do açúcar na Ilha da Madeira estava próspera embora monopolizada por genoveses e judeus. Os portugueses se queixaram do monopólio aos quais estavam excluídos ao rei português Afonso V. A notícia da Crónica de Nuremberg, de Hartman Schedel (1495), informa que a ilha da Madeira "produz vários frutos, principalmente a cana sacarina, que traz à ilha consideráveis lucros, inundando a Europa de óptimo açúcar, que é conhecido por açúcar da Madeira". Em 1498 o rei D. Manuel impôs uma restrição para as exportações vindas da Ilha da Madeira para atender as reclamações dos portugueses.[3] Portugal procurou atrair tanto judeus quanto flamengos para o arquipélago, mediante a distribuição de terras. Varnhagen confirma que vieram da Ilha da Madeira os operários especializados na indústria mecânica agrícola do açúcar.[4] Segundo Stuart Schwarz entre os colonos trazidos por Martim Afonso de Souza em 1530 ao Brasil havia um perito na manufatura do açúcar Pedro Lopes Silveira e vários portugueses e italianos e flamengos com experiência na produção de açúcar na ilha da madeira, entre os quais João Veniste e o genovês João Adorno.[5] Segundo Marcos Costa a transferência desta tecnologia de produção de açúcar para o nordeste brasileiro constitui um exemplo bem sucedido de transferência tecnológica do que havia de mais moderno na época em termos de produção mecanizada. Segundo Joaquim Romero Guimarães: “A Madeira destacou-se como o centro de lançamento da nova cultura atlântica, como a terra de referência de onde saem os mestres e trabalhadores experimentados da cana e do açúcar. De lá terão ido os que ensinaram a faina nas outras ilhas, inclusive nas Canárias, e no Brasil. Duarte Coelho, o colonizador de Pernambuco, não dispensará a presença de madeirenses entre os trabalhadores que lhe asseguravam a produção” [6]

[1]https://www.catedra-alberto-benveniste.org/dic-italianos.asp?id=114

[2]COSTA, Marcos. O livro obscuro do descobrimento do Brasi, Rio de Janeiro:Leya, 2019, p. 42

[3]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.10

[4]VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. I, p. 195

[5]SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 31

[6]MAGALHAES, Joaquim Romero. O açúcar nas ilhas portuguesas do Atlântico séculos XV e XVI. Varia hist. 2009, vol.25, n.41, p.151-175. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-7752009000100008&script=sci_arttext



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