sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Monjolo

 

O monjolo de origem oriental não seria conhecido no Brasil antes do século XVIII. Sérgio Buarque de Holanda mostra que a alegação de Varnhagen de que o monjolo teria sido trazido da China por Brás Cubas à ilha de São Vicente [1] e denominado de enguá-guaçu (pilão grande) pelos indígenas carece de comprovação documental. [2] Pedro Calmon também se refere a origem chinesa do monjolo [3]. Rodolfo Delgado supõe que o termo monjolo seja derivado do sânscrito musala, que significa pilão de descascar arroz.[4] Sérgio Buarque de Holanda destaca que o monjolo foi o primeiro artifício automatizado empregado no beneficiamento do café e que já vinha sendo empregado por Eschwege em Congonhas do campo na zona da mineração na Fábrica Patriótica instalada em 1811.[5] Sérgio Buarque de Holanda mostra a resistência com que o monjolo de água foi adotado a partir da segunda metade do setecentos, tendo sido inconteste o predomínio do pilão manual.[6] Segundo Hugo Lima “O pilão foi um dos utensílios mais generalizados e usuais no beneficiamento do café em nosso País. Era constituído por um simples toco de madeira, grosso, verticalmente disposto, tendo na parte superior uma cavidade ou bojo de fundo concavado, de secção circular diâmetro de 40 a 50 cm e de 60 a 80 cm de profundidade. Para que oferecesse melhor aspecto a peça era entalhada “.[7] Saint Hilaire em Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais e Richard Burton em Viagens aos planaltos do Brasil também reportam o uso de diferentes tipos de monjolos [8]. Afonso de Taunay registra: “as glórias do monjolo juntamos uma ainda agora: o seu papel na indústria de preparação do café. É mais um florão de triunfo a recordar o seu passado imenso, carregado de séculos, mais um título a benemerência dos brasileiros”.[9] Para Richard Burton [10]: “O monótono barulho do monjolo, a única máquina poupadora do trabalho humano que Portugal permitia a seu grande filho, proclama o atraso da agricultura”. Vicente Salvador em 1627 em História do Brasil se refere a que “Como o trato e negócio principal do Brasil é de açúcar, em nenhuma outra coisa se ocupam os engenhos, e habilidades dos homens tanto como em inventar artifícios com que o façam, e porventura por isso lhe chamam engenhos” e se refere a pilões com dois eixos postos um sobre o outro, movidos com uma roda de água, ou de bois, que andava com uma muito campeira chamada bolandeira, a qual ganhando vento movia, e fazia andar outras quatro, e os eixos em que a cana se moía. Vicente Salvador se refere também ao engenho de entrosas, ou engenho dos três paus, trazido pelo clérigo espanhol Diogo de Menezes.



[1]ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional III, São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.440

[2]VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. I, p. 194; HOLANDA, Sérgio Buarque. Caminhos e Fronteiras, Rio de Janeiro:José Olimpio, 1957, p.225, 242; LEME, Hugo de Almeida. A evolução das máquinas de beneficiar café no Brasil. Anais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, v.10, 1953, p.1-30

[3]CALMON, Pedro. História da Civilização Brasileira. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1933, p.17

[4]MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 104

[5]HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971, p.101; FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.241

[6]HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. São Paulo:Brasiliense, 2000, p. 177

[7]LEME, Hugo de Almeida. A evolução das máquinas de beneficiar café no Brasil. Anais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, v.10, 1953, p.1-30 http://docplayer.com.br/67903245-A-evolucao-das-maquinas-de-beneficiar-cafeno-brasil.html

[8]COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 225

[9]SCHMIDT, Carlos Borges, Monjolos de agua e monjolos de rabo, Diário de São Paulo 19/04/1959

[10]BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p.87



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