sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Indústria doméstica medieval

 

Em Reims, Arras e Lille a maior parte das residências domésticas eram usadas pelos homens de ofícios como local de venda e produção dos produtos que fabricavam.[1] Ashley destaca que assim como o surgimento da indústria artesanal é associada com a subordinação da vila com a unidade econômica mais ampla representada pela cidade, do mesmo modo o surgimento do sistema doméstico foi parte de um desenvolvimento posterior subordinado a uma unidade econômica ainda maior representada pela nação [2]. Thomas Ashton destaca que “mesmo nas regiões á volta de Londres, Manchester e Birmingham havia homens e mulheres trabalhando laboriosamente sem o auxílio que a ciência e a técnica haviam dado aos seus camaradas da fábrica, da fundição e da mina”.[3] Arnold Toynbee destaca o papel da indústria doméstica inglesa antes da Revolução Industrial: “A classe dos empresários capitalistas estava ainda na infância. Uma grande parte de nossas mercadorias era ainda produzida pelo sistema doméstico. As manufaturas estavam pouco concentradas nas cidades e apenas parcialmente separadas da agricultura. O manufatureiro era literalmente o homem que trabalhava com as suas próprias mãos na sua própria casa. Uma característica importante na organização industrial da época estava na existência de um número de pequenos mestres manufatureiros que eram inteiramente independentes, possuindo capital e terra, pois combinavam a cultura de pequenas terras pastoris alodiais com o seu artesanato”.[4] Jacques Rossiaud contudo observa que “O local de trabalho e a vida familiar não são inseparáveis, como uma certa imagem tradicional poderia fazer crer. Em Florença, a maioria dos artesãos alugou a sua oficina e vive noutra rua e, até, noutro bairro.[...] sabe-se que os proletários «de unhas azuis» dos centros flamengos produtores de tecidos eram, por vezes, obrigados a viver nos subúrbios porque os donos da cidade não os queriam ver dentro das muralhas depois de terem terminado o seu dia de trabalho [5]

[1]CONTAMINE, Philippe. Os arranjos do espaço privado século XIV-XV. In: In: ARIÉS, Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada: da Europa Feudal à Renascença, v.2, São Paulo:Cia das Letras, 1990, p.458

[2]UNWIN, George. Industrial Organization in the Sixteenth and Seventeenth Centuries, Claredon Press:Oxford, 1904, p.4

[3]ASHTON, Thomas. A revolução industrial, Sintra:Pub. Europa-América, 1977, p.118

[4]TAKAHASHI, H. Uma contribuição para a discussão. In: DOBB, Maurice. Do feudalismo ao capitalismo, Lisboa:Publicações Dom Quixote, 1972, p.188

[5]ROSSIAUD, Jacques. O citadino e a vida na cidade. In: LE GOFF, Jacques. O homem medieval, Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.112



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