sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Tecidos ingleses e a Revolução Industrial

 

Em 1700 o governo inglês interditou as sedas e os tecidos de algodão orientais e em 1721 ampliou as restrições proscrevendo mesmo o uso de tecidos imprtados crus ainda que tingidos na Inglaterra. Pierre Deyon observa que medidas protecionistas contribuíram para que a indústria inglesa conseguisse vencer a concorrência dos produtos indianos.[1] A lançadeira volante de John Kay permitiu ganhos de produtividade importantes e que contribuíram para que o artesão utilizasse apenas uma das mãos enquanto que no sistema anterior o tecelão passava a lançadeira transversalmente de uma mão à outra para fazer a trama. A difusão da lançadeira volante fly-shuttle, contudo, foi lenta somente tornando-se mais comum entre os artesãos da região de Manchester a partir de 1760[2]. A lançadeira volante permitiu aumentar a velocidade de operação de um modo notável, além do que as meias mais largas poderiam ser tecidas por um único tecelão, enquanto que no modelo antigo para tecidos que excedessem 75 cm seria necessário dois tecelões, um de cada lado do tear.[3] John Kay solicitou patentes em 1730 para a preparação dos fios a serem usados em teares e em 1733 para a máquina de abrir e alisar lãs e para a lançadeira volante.[4] As importações de algodão cru aumentaram de cerca de 1 milhão de libras em 1743 para cerca de 60 milhões em 1802.[5] Entre 1750 e 1770 as exportações dos tecidos de algodão aumentam em dez vezes.[6] Em 1769 com a water frame máquina hidráulica patenteada por Richard Arkwright se vialibilizou a produção de calicos até então importados da Índia. Com a mula fiadora de Samuel Crompton de 1779 e a possibilidade de fabricação de musselinas extremamente finos, supera-se a lendária habilidade dos tecelões indianos[7]. Entre 1780 e 1850 o consumo de algodão pela indústria inglesa aumentou de 2 mil para 250 mil toneladas[8]. As exportações de produtos têxteis de algodão tornaram-se a principal mercadoria no comércio internacional britânico do século XIX.[9] O vertiginoso aumento das importações de algodão nas décadas de 1770 e 1780 pela Inglaterra está diretamente á inovações técnicas das fiandeiras spinning jenny de Hargreaves, a spinning mule de Crompton e a máquina hidráulica de Arkwright.[10] O preço dos fios de algodão n.100 caiu de 38 shillings em 1786 para apenas 6 shillings e 9 pence em 1807, 2 shillings e 2 pence em 1832[11]. A concorrência de novas fibras fez com que a indústria têxtil britânica perdesse sua competitividade internacional de modo que em 1830 a produção de fios e produtos de algodão e de lã era de 64% da pauta de exportação e já cai para menos da metade em 1870. [12]



[1]DEYON, Pierre. O mercantilismo, São Paulo: Perspectiva, 1985, p.32

[2]MANTOUX, Paul. A revolução industrial no seculo XVIII, São Paulo:Unesp, p.35

[3]USHER, Abbott. Uma história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 374

[4]USHER, Abbott. Uma história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 3772

[5]HENDERSON, William. A revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.8

[6]RIOUX, Jean Pierre. A revolução industrial 1780-1880, São Paulo:Pioneira, 1975, p.38

[7]MANTOUX, Paul. A revolução industrial no seculo XVIII, São Paulo:Unesp, p.230

[8]SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1979, p.167; RIOUX, Jean Pierre. A revolução industrial 1780-1880, São Paulo:Pioneira, 1975, p.150

[9]FREEMAN, Chris; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial, São Paulo:Ed. Unicamp, 2008, p.71, 96

[10]FREEMAN, Chris; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial, São Paulo:Ed. Unicamp, 2008, p.70

[11]HENDERSON, William. A revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.47

[12]ROSENBERG, Nathan. Por dentro da Caixa preta. Campinas: Unicamp, 2006, p.378



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