Gordon Childe destaca que a invenção do calendário solar foi possivelmente uma das fontes de autoridade real no Egito: “qualquer pessoa que pretendesse, com êxito, controlar os elementos com sua mágica, conquistaria decerto um prestígio e autoridades imensos”. O egiptólogo alemão Sethe estima que o calendário solar tenha sido adotado no primeiro período de unificação (4200 a.c.).[1] Normalmente a cheia do Nilo chegará a qualquer lugar no mesmo ponto da jornada da Terra em torno do Sol, ou seja, no mesmo dia solar, e tal capacidade de previsão poderia justificar seu poder mágico de controlar as estações e as colheitas [2]. A realização dos cálculos necessários conferiu um grande poder ao clero por muito tempo.[3] Comparando os registros o egípcios o intervalo medido entre as cheias era de 365 dias com uma tolerância de menos de um dia.[4] René Taton observa que este ciclo anual de 365 dias (12 meses de 30 dias mais cinco dias (denominados epagómenos)[5] dedicados a Osíris, Hórus, Set, Ísís e Nefthys)[6] foi determinado com base nas observações dos ciclos de inundação do Nilo e não em observações astronômicas, de modo que não se pode concluir pela existência de um conhecimento astronômico avançado.[7] Os meses do calendário egípcio eram Thoth, Phaophi, Athyr, Choiak, Tybi, Mechir, Phamenoth, Pharmouthi, Pachons, Payni, Epiphi, Mesore[8]. O período de cheias do Nilo se estendia por quatro meses era chamado akhit, ou akhet, a inundação de julho a outubro[9], a que os egípcios associavam as lágrimas de Ísis, chorando o seu marido Osíris[10]. Havia também a estação da sementeiras (Pert) e a estação das colheitas (Shemu). A inundação era sinal de vida nova. Segundo os textos das Pirâmides: “Oh Osíris, a inundação está próxima, se estende a abundância se aproxima a estação da enchente que surge da torrente que emana de Osíris. Oh rei, que o ceu te dê a luz na forma de Orion”[11]. A inundação representa a força germinativa das plantas e o poder reprodutor dos animais e seres humanos que são estimulados com a vinda da água.[12] Com o transbordamento do Nilo na estação da germinação isso permitia que os cereais crescessem sem depender da água das chuvas[13]. Seth representa o deserto árido e vermelho, cujo vento ardente é inimigo da vegetação.[14]
[1]VERCOUTTER, Jean. O
Egito antigo, São Paulo:DIFEL, 1974, p. 50
[2]CHILDE, Gordon. A
evolução cultural do homem, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p.138
[3]DERRY, T.; WILLIAMS,
Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750,
Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.81
[4]CHILDE, Gordon. O que
aconteceu na história, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.125
[5]ONCKEN, Guilherme.
História Universal. História do Antigo Egito, v.I, Rio de Janeiro:Bertrand,
p.107
[6]ALVAREZ, Lopez. O
enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.117
[7]TATON, René. A ciência
antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 50
[8]MOURÃO, Ronaldo Freitas. Dicionário Enciclopédico de astronomia e astronáutica,
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 136
[9]COON, Carleton. A
história do homem. Belo Horizonte:Itatiaia, 1960, p.235; Grande História
Universal: o princípio da civilização, Barcelona:Folio, 2001, p.52
[10]MATTOSO, Antonio.
História da civilização, Lisboa:Ed Sá da Costa, 1952, p.34
[11]LAMY, Lucien. Mistérios
egípcios, Madri:Prado, 1996, p.5
[12]CLARK, Rundle. Símbolos
e mitos do Antigo Egito, São Paulo:Hemus, (s.d.), p.96
[13]ROAF, Michael.
Mesopotâmia v.I, Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 40
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