sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Inglaterra oficina do mundo

 

Na Inglaterra a Câmara dos Comuns ainda em 1825 demonstrava uma forte preocupação de alguns deputados em obstruir a todo custo a exportação de máquinas.[1] As leis inglesas do início do século XIX proibiam tanto a exportação de máquinas como a emigração de seus artesãos. Havia leis que impediam a emigração de artesãos ingleses. Em 1774 uma lei proibia a exportação de ferramentas e utensílios que sirvam para a fabricação de tecidos de algodão ou de linho e algodão. Em 1781 outra lei impedia a exportação de desenhos, modelos e especificações de máquinas para este fim.[2] Samuel Garbett e Josiah Wedgwood destacaram-se na perseguição de possíveis emigrantes. Até 1800 Boulton e Watt haviam construído cerca de 500 máquinas a vapor das quais somente algumas poucas haviam sido exportadas. De 1815 a 1840 a Inglaterra torna-se verdadeiramente a “fábrica do mundo” ou “oficina do mundo” “worshop of the world”[3] exportando principalmente tecidos e lã mas também fios[4]. Segundo Eric Hobsbawm como oficina mecânica do mundo a Inglaterra transformava o mundo num conjunto de economias dependentes de sua economia, [5] destinados a produção de algodão, madeira e chá: “Tudo o que a indústria britânica necessitava era paz. E havia paz”. [6] Contudo, mesmo na década de 1840 a Inglaterra provavelmente produzia menos de um terço do volume total de manufaturas [7]. Nathan Rosenberg também considera inadequado a referência a Inglaterra como fábrica do mundo pois no mesmo período o país se concentrou numa faixa bastante estreita de atividades industriais (indústria têxtil em especial tecidos de algodão) e foi um grande exportador de matéria prima sendo em 1870, quando a tecnologia da Revolução Industrial já se difundira, responsável pela metade de toda produção mundial de carvão e mais da metade da produção de ferro gusa, um reflexo da pujança da indústria inglesa em termos mundiais. Nessa época por volta de 1870 a participação da Inglaterra na produção mundial de manufaturas estava em visível declínio. A revolução industrial na Inglaterra não foi fortemente dependente de matérias primas para a indústria importadas da periferia. Suas matérias primas foram o carvão, minério de ferro, algodão e lã e a base alimentar o trigo, todos produzidos nos países centrais: “a visão do comércio mundial como consistindo principalmente de países pobres que exportam alimentos e matérias primas em troca dos bens manufaturados industrializados dos países avançados é ao mesmo tempo incompleta e distorcida, quando é apresentada como a história toda”, ou seja, a relação desfavorável nos termos de troca no comércio mundial no início de revolução industrial é apenas parte da história.[8] Por outro lado, o próprio Nathan Rosenberg mostra gráfico das importações da Inglaterra em que em 1860 menos de seis por cento das importações eram de produtos manufaturados confirmando que no período o país foi grande importador de alimentos, tabaco e matéria prima.



[1]MELLO, Maria Regina Ciparrone. A industrialização do algodão em São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1983, p.77

[2]MANTOUX, Paul. A revolução industrial no seculo XVIII, São Paulo:Unesp, p.252

[3]SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.IV, Oxford, 1958, p.v; PLUM, Werner. Exposições mundiais no século XIX: espetáculos da transformação sócio cultural, Bonn:Friedrich Ebert Stiftung, 1979, p.92

[4]RIOUX, Jean Pierre. A revolução industrial 1780-1880, São Paulo:Pioneira, 1975, p.86; HOBSBAWM, E. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. Forense:Rio de Janeiro, 1969, p.101, 111; CANEDO, Letícia Bicalho. A revolução industrial. Série: Discutindo a história, São Paulo: Ed. Univ Campinas, 1987, p.66; HENDERSON, William. A revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.8

[5]HOBSBAWM, E. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. Forense:Rio de Janeiro, 1969, p.126

[6]HOBSBAWM, E. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. Forense:Rio de Janeiro, 1969, p.216

[7]ROSENBERG, Nathan. Por dentro da Caixa preta. Campinas: Unicamp, 2006, p.377

[8]ROSENBERG, Nathan. Por dentro da Caixa preta. Campinas: Unicamp, 2006, p.372, 377



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