Na
Inglaterra a Câmara dos Comuns ainda em 1825 demonstrava uma forte preocupação
de alguns deputados em obstruir a todo custo a exportação de máquinas.[1] As leis inglesas do início do século XIX proibiam tanto a exportação de
máquinas como a emigração de seus artesãos. Havia leis que impediam a emigração
de artesãos ingleses. Em 1774 uma lei proibia a exportação de ferramentas e
utensílios que sirvam para a fabricação de tecidos de algodão ou de linho e
algodão. Em 1781 outra lei impedia a exportação de desenhos, modelos e
especificações de máquinas para este fim.[2] Samuel Garbett e Josiah Wedgwood destacaram-se na perseguição de possíveis
emigrantes. Até 1800 Boulton e Watt haviam construído cerca de 500 máquinas a
vapor das quais somente algumas poucas haviam sido exportadas. De 1815 a 1840 a
Inglaterra torna-se verdadeiramente a “fábrica
do mundo” ou “oficina do mundo” “worshop of the world”[3] exportando principalmente tecidos e lã mas também fios[4].
Segundo Eric Hobsbawm como oficina mecânica do mundo a Inglaterra transformava
o mundo num conjunto de economias dependentes de sua economia, [5] destinados a produção de algodão, madeira e chá: “Tudo o que a indústria britânica necessitava era paz. E havia paz”. [6] Contudo, mesmo na década de 1840 a Inglaterra provavelmente produzia menos de um
terço do volume total de manufaturas [7].
Nathan Rosenberg também considera inadequado a referência a Inglaterra como
fábrica do mundo pois no mesmo período o país se concentrou numa faixa bastante
estreita de atividades industriais (indústria têxtil em especial tecidos de
algodão) e foi um grande exportador de matéria prima sendo em 1870, quando a
tecnologia da Revolução Industrial já se difundira, responsável pela metade de
toda produção mundial de carvão e mais da metade da produção de ferro gusa, um
reflexo da pujança da indústria inglesa em termos mundiais. Nessa época por
volta de 1870 a participação da Inglaterra na produção mundial de manufaturas
estava em visível declínio. A revolução industrial na Inglaterra não foi
fortemente dependente de matérias primas para a indústria importadas da periferia.
Suas matérias primas foram o carvão, minério de ferro, algodão e lã e a base
alimentar o trigo, todos produzidos nos países centrais: “a visão do
comércio mundial como consistindo principalmente de países pobres que exportam
alimentos e matérias primas em troca dos bens manufaturados industrializados
dos países avançados é ao mesmo tempo incompleta e distorcida, quando é
apresentada como a história toda”, ou seja, a relação desfavorável nos
termos de troca no comércio mundial no início de revolução industrial é apenas
parte da história.[8] Por
outro lado, o próprio Nathan Rosenberg mostra gráfico das importações da Inglaterra
em que em 1860 menos de seis por cento das importações eram de produtos manufaturados
confirmando que no período o país foi grande importador de alimentos, tabaco e
matéria prima.
[1]MELLO, Maria Regina
Ciparrone. A industrialização do algodão em São Paulo. São Paulo: Perspectiva,
1983, p.77
[2]MANTOUX, Paul. A
revolução industrial no seculo XVIII, São Paulo:Unesp, p.252
[3]SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.IV, Oxford,
1958, p.v; PLUM, Werner. Exposições
mundiais no século XIX: espetáculos da transformação sócio cultural,
Bonn:Friedrich Ebert Stiftung, 1979, p.92
[4]RIOUX, Jean Pierre. A
revolução industrial 1780-1880, São Paulo:Pioneira, 1975, p.86; HOBSBAWM, E. Da
revolução industrial inglesa ao imperialismo. Forense:Rio de Janeiro, 1969,
p.101, 111; CANEDO, Letícia Bicalho. A revolução industrial. Série: Discutindo
a história, São Paulo: Ed. Univ Campinas, 1987, p.66; HENDERSON, William. A
revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.8
[5]HOBSBAWM, E. Da
revolução industrial inglesa ao imperialismo. Forense:Rio de Janeiro, 1969,
p.126
[6]HOBSBAWM, E. Da
revolução industrial inglesa ao imperialismo. Forense:Rio de Janeiro, 1969,
p.216
[7]ROSENBERG, Nathan. Por dentro da Caixa preta. Campinas: Unicamp, 2006, p.377
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