sábado, 5 de setembro de 2020

Restrições das guildas

 

Maurice Dobb mostra a contradição entre o modo de produção das guildas medievais e o sistema de produção capitalista que se estrutura na Inglaterra a partir do século XVII. O ataque às restrições das guildas comerciais viria da geração nova de capitalistas mercadores e de alguns proprietários rurais que empreendiam o desenvolvimento da indústria no campo com a contratação de artesãos. O regime da guilda urbana e das grandes corporações comerciais, com seus monopólios garantidos por cartas-patentes, restringiam a entrada no mercado destes novos atores no sistema de produção [1] Franceschelli destaca que as rígidas normas de produção estabelecidas pelas guildas caso descumpridas pelos artesãos estariam indo “contra o fazer” o que deu origem ao termo contrafacere e contrafação.[2] Philippe Braunstein contudo mostra que tais controles nem sempre se mostravam tão rígidos: “É, sem dúvida, importante considerar que os mesmos homens são capazes de trabalhar em contextos bem diversos, e que, apesar das barreiras erguidas pelos ofícios, podem ser levados a se definir diferentemente de sua formação inicial e de seu pertencimento a uma fraternidade [...] independentemente de o ofício ao qual pertence estar organizado ou não, ele escapa totalmente às regras que fixam na sua cidade as modalidades de trabalho e de remuneração”[3] As guildas medievais além da restrição de mercado possuíam em sua maioria regulamentos opressivos com os artesãos, com restrição na admissão de novos aprendizes para evitar a difusão dos conhecimentos tecnológicos da época, o que significava na prática, segundo Pirenne que “em cada cidade a indústria local se torna um privilégio restrito de um consórcio de patrões hereditários”[4]. Hilário Franco observa que a condição de mestre passou a ser hereditária apenas com o agravamento das condições econômicas o que veio a ocorrer em meados do século XIII[5]. Em 1099 o bispo de Utrecht foi assassinado por um mestre pedreiro por revelar os segredos para a preparação de alicerces para a construção de uma igreja.[6]


[1]DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo, Rio de Janeiro: Zahar, 1973. p. 201, 281

[2]FORGIONI, Paula. Os fundamentos antitruste, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 47

[3]BRAUNSTEIN, Philippe. Artesãos. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 102

[4]DOBB.op. ct.p. 149

[5]JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.44

[6]KING, Ross. O domo de Brunelleschi: como um gênio da Renascença reinventou a arquitetura, Rio de Janeiro:Record, 2013, p.173



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