Maurice Dobb mostra a contradição entre o modo de produção
das guildas medievais e o sistema de produção capitalista que se estrutura na
Inglaterra a partir do século XVII. O ataque às restrições das guildas
comerciais viria da geração nova de capitalistas mercadores e de alguns
proprietários rurais que empreendiam o desenvolvimento da indústria no campo
com a contratação de artesãos. O regime da guilda urbana e das grandes
corporações comerciais, com seus monopólios garantidos por cartas-patentes,
restringiam a entrada no mercado destes novos atores no sistema de produção [1] Franceschelli destaca que as rígidas normas de produção estabelecidas pelas
guildas caso descumpridas pelos artesãos estariam indo “contra o fazer” o que deu
origem ao termo contrafacere e contrafação.[2] Philippe
Braunstein contudo mostra que tais controles nem sempre se mostravam tão
rígidos: “É, sem dúvida, importante
considerar que os mesmos homens são capazes de trabalhar em contextos bem diversos,
e que, apesar das barreiras erguidas pelos ofícios, podem ser levados a se
definir diferentemente de sua formação inicial e de seu pertencimento a uma
fraternidade [...] independentemente de o ofício ao qual pertence estar
organizado ou não, ele escapa totalmente às regras que fixam na sua cidade as
modalidades de trabalho e de remuneração”[3] As guildas medievais além da restrição de mercado possuíam em sua maioria
regulamentos opressivos com os artesãos, com restrição na admissão de novos
aprendizes para evitar a difusão dos conhecimentos tecnológicos da época, o que
significava na prática, segundo Pirenne que “em cada cidade a indústria
local se torna um privilégio restrito de um consórcio de patrões hereditários”[4]. Hilário Franco observa que a condição de mestre passou a ser hereditária apenas
com o agravamento das condições econômicas o que veio a ocorrer em meados do
século XIII[5]. Em 1099 o bispo de Utrecht foi assassinado por um mestre pedreiro por revelar
os segredos para a preparação de alicerces para a construção de uma igreja.[6]
[1]DOBB, Maurice. A
evolução do capitalismo, Rio de Janeiro: Zahar, 1973. p. 201, 281
[2]FORGIONI, Paula. Os fundamentos antitruste, São Paulo: Revista dos Tribunais,
2005, p. 47
[3]BRAUNSTEIN, Philippe. Artesãos. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do
Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 102
[4]DOBB.op. ct.p. 149
[5]JÚNIOR, Hilário Franco.
A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.44
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