Karl Marx observa que a história da maquinaria remonta
os moinhos d’água usados no Império Romano de modo que o termo para fábrica em
inglês no século XIX ainda era conhecido como mill (moinho).[1] No fim
do século I os engenheiros romanos conseguiram sextuplicar o rendimento dos
moinhos hidráulicos, algo equivalente a 3 cavalos. Vitrúvio descreve tais
moinhos e mostra o aperfeiçoamento proporcionado pela substituição das
primitivas rodas horizontais por rodas verticais com uma engrenagem que ligava
o eixo horizontal das rodas ao eixo vertical das mós[2]. Uma
roda tinha palhetas fixadas ao eixo horizontal de uma roda dentada, ligada a
uma roda menor, esta ligada ao fuso portador da mó. Moinhos encontrados ao
leste de Monte Cassino podiam triturar 150 quilos de trigo por hora, ou seja,
1500 quilos numa jornada de 10 horas diárias trabalho equivalente ao realizado
por 40 escravos usando o moinho braçal.[3] Jean
Gimpel se refere a tais moinhos como “o
maior complexo industrial do império romano de que se tem notícia”[4]. Uma
construção romana em Provença tinha capacidade para moer trigo para 80 mil
pessoas ou cerca de 28 toneladas numa jornada de 10 horas. No século IV o
moinho de Barbegal na França, que transportava a água das montanhas de Alpilles
até a cidade romana de Arles[5],
consistia de um mecanismo projetado pelos romanos em duas séries de oito rodas
hidráulicas dispostas numa ladeira para construção de moinhos de farinha com
capacidade de produção de 28 toneladas de farinha em um dia de 10 horas, o
suficiente para o consumo de 80 mil pessoas.[6] Charles
Parain argumenta que Barbegal mostra o interesse pela técnica dos moinhos
d’água depois de séculos de desenvolvimento lento durante o império romano.
Este interesse surge pelo declínio da escravidão e ascenção do colonato,
formação de grandes aglomerados humanos que demandavam maior consumo de
farinha, e pelo interesse de exploração por monopólio dos moinhos d’água por
parte dos senhores proprietários de grandes extensões de terras pois os moinhos
exigiam a canalização dos rios por longas distâncias bem como construção de
barragens para regularização de seu fluxo, controlando cheias e vazantes.[7] Tales de
Mileto alugou todos os lagares das cidades de Mileto e Chio tendo pago pouco
pelo aluguel porque porque ninguém oferecera preço melhor e ele dera algum
adiantamento, segundo testemunho de Aristóteles em A política. Com isso
Tales faturou um bom dinheiro cobrando dos produtores de azeitona um preço
elevado e conseguindo grande fortuna na operação. Aristóteles conclui: “Em
geral, o monopólio é um meio rápido de fazer fortuna. Assim, algumas cidades,
quando precisam de dinheiro, usam desse recurso. Reservam-se a si mesmas a
faculdade de vender certas mercadorias e, por conseguinte, de fixar seus preços
como querem [...] É bom que os que governam os Estados conheçam esse
recurso, pois é preciso dinheiro para as despesas públicas e para as despesas
domésticas, e o Estado está menos do que ninguém em condições de dispensá-lo”.
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