domingo, 6 de setembro de 2020

Cidade Estado grega

 

A cidade, polis em grego[1], (do qual deriva política) significava na Grécia Clássica um Estado autônomo, que governa a si mesmo. Na Política Aristóteles explica eu “quando várias aldeias se unem numa única comunidade, grande o bastante para ser autosuficiente (ou para estar perto disso) configura-se a cidade (polis)[2], ou Estado que nasce para assegurar o viver e que , depois de formada, é capaz de assegurar o viver bem”. Não há qualquer anacronismo em usar o termo “Estado grego”, que é explicitado pelos historiadores da Grécia clássica como Moses Finlay[3]. Gustavo Glotz destaca que na época helenística o Estado mantinha uma série de direitos régios principalmente com relação a direitos sobre o subsolo como minas e pedreiras. Em Rodes, Cnido , Esmirna, Paros, Tasos e Ólbia os vasos são produzidos com uma marca oficial para demonstra que a argila provinha de barreiras exploradas em regime de arrendamento régio. O monopólio dos óleos, usado tanto como condimento como para limpeza do corpo[4], está ricamente registrado por diversos documentos que mostram a determinação das áreas de cultivo da azeitona (a figura mostra a colheita de azeitonas tal como mostrado em um vaso grego) a fixação de quantidades produzidas, a produção vendida ao rei e o imposto devido[5]. Tudo era objeto de monopólio regulado pelo rei: cervejarias, vinho, mel, madeira, barcos, tanaria, vidraria de luxo, trabalho de pedras preciosas, fabrico de bronze e a ourivesaria. Dalmo Dalari observa: “Embora seja comum a referência ao Estado Grego, na verdade não se tem notícia da existência de um Estado único, englobando toda a civilização helênica. Não obstante, pode-se falar genericamente no Estado Grego pela verificação de certas características fundamentas, comuns a todos os Estados que floresceram entre os povos helênicos [entre as quais a sociedade política]”.[6] Indro Montanelli argumenta que a invasão dos dórios, com seu sentimento de superioridade racial, impediu que se formasse um sentimento de unidade entre os gregos e assim se formasse uma nação política grega[7]. Moses Finlay observa que o termo cidade Estado induz contudo uma visão equivocada de que a cidade governa o campo, na verdade Atenas, por exemplo era uma cidade de apenas 2300 km2. Na maior parte as cidades estado gregas eram dominadas pelo campo.[8] O poder das cidades Estados era localizado. Ptolomeu e Seleuco eram reis mas não foram reis de algo como assim se denominavam os reis no Egito, Babilônia ou Pérsia. Arnold Toynbee mostra  que a instituição da cidade Estado não é em si uma característica peculiar da sociedade helênica pois haviam exemplos de cidades estados cananeias como as cidades fenícias de Sidon e Tiro no litoral sírio e Cádiz em Cartago no norte da África e Cadiz no sul da Espanha assim como temos o exemplo da transformação do cantão de Judá na cidade Estado de Jerusalém pelo rei Josias em VII a.c.[9]

[1]FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma, São Paulo: Contexto, 2004, p.25

[2]http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0057%3Abook%3D1%3Asection%3D1252b

[3]FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorail Labor, 1966, p. 55

[4]HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.65

[5]GOTZ, Gustave. História econômica da Grécia, Lisboa:Cosmos, 1928, p. 313

[6]DALLARI, Dalmo. Elementos de teoria geral do Estado, Rio de Janeiro: Saraiva, 2007, p. 63

[7]MONTANELLI, Indro. História dos gregos, São Paulo:Ibrasa,1962, p. 38

[8]FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorail Labor, 1966, p. 55

[9]TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 20




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