quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Metafísica na ciência de Newton

 

O declínio da alquimia foi gradual. Richard Westfall mostra que Isaac Newton teria encontrado na alquimia, a qual ele se dedicou com mais interesse no período de 1670 a 1680, ajuda para elaborar o novo conceito de força [1]. Os conceitos herméticos permitiram que Newton não oferecesse resistência a teoria de forças a distância proposta no modelo gravitacional por ele proposto. Em um texto alquímico de Newton ele remete ao conceito de um éter que permearia o universo: “há portanto, ao lado das mudanças perceptíveis nas texturas da matéria bruta, uma maneira mais sutil, secreta e nobre de operação em qualquer vegetação, que torna seus produtos distintos dos outros,e o palco de suas operações não é o volume total da matéria, mas sim, uma porção inimaginavelmente pequena e muito mais sutil de matéria difundida através da massa”. Para Betty Dobbs, Newton tentava integrar as ideias herméticas com as filosofias mecânicas de sua época[2]. Tal fato não passou despercebido à Leibniz que em seu Antibarbarus physicus critica a teoria gravitacional de Newton por ser “a ressurreição das qualidades escolásticas e dos poderes quiméricos”.[3] Newton no Opticks em 1704 responde que “não considero os princípios ativos como da gravidade como qualidades ocultas resultantes, por suposto, da forma específica das coisas, mas como leis gerais da natureza, pela qual as próprias coisas são formadas: a sua verdade se nos apresenta através dos fenômenos, mesmo que suas causas ainda não tenham sido descobertas. Pois, tais princípios constituem qualidades manifestas e apenas suas causas são ocultas”.[4] A própria explicação de Leibinz para gravidade seguia os cânones da escolástica na medida em que atribui uma “força passiva primitiva” no interior dos corpos [5] que seriam formado não por átomos, mas por “mônadas” dotas de alma e por isso vistas como indivíduos genuínos capazes de atividade própria[6].

Com relação as bases metafísicas da ciência de Newton, George Berkeley no ensaio The Analyst argumentou que as bases da matemática do cálculo infinitesimal de Lebiniz e Newton eram tão incerta quanto a teologia. Tantos os fluxões de Newton como os infinitésimos de Leibinz eram mal definidos e calculados sobre o quociente de dois incrementos: “E o que são essas fluxões ? as velocidades de incrementos evanescentes. E o que são esses mesmos incrementos evanescentes ? Não são nem quantidades finitas, nem quantidades infinitamente pequenas, nem nada. Podemos chama-las de fantasmas de quantidades que partiram ? [...] Aquele que pode digerir uma segunda ou terceira fluxão não precisa, eu penso, ter preconceitos sobre qualquer ponto da divindade”.[7]



[1]McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns Hopkins University Press, 1999, p.253; ABRANTES, Paulo. Imagens de natureza, imagens de ciência, Campinas:Papirus, 1998, p.78

[2]ABRANTES, Paulo. Imagens de natureza, imagens de ciência, Campinas:Papirus, 1998, p.79

[3]TATON, René. A ciência moderna: o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.27

[4]TATON, René. A ciência moderna: o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.93

[5]HENRY, John. A revolução científica e as origens da ciência moderna. Rio de Janeiro:Zahar, 1998, p. 73

[6]HENRY, John. A revolução científica e as origens da ciência moderna. Rio de Janeiro:Zahar, 1998, p. 85

[7]BERLINGHOFF, William; GOUVEA, Fernando. A matemática através dos tempos, São Paulo: Blucher, 2010, p.47



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