Rodolfo
Mondolfo observa que Protágoras tem em vista o homem medida, o indivíduo em sua
variável subjetiva. Platão no Teetetos critica essa máxima de Protágoras em que
contra argumenta que o homem não pode ser a medida de todas as coisas pois
enquanto um pode tremer de frio outro pode se sentir confortável. Gomperz tenta
resolver esse argumento sugerindo que Protágoras estava se referindo ao homem
enquanto espécie e não como indivíduo, no entanto, não há qualquer suporte em
Platão, Aristóteles ou mesmo ao próprio Protágoras a esta interpretação. Arnold
Toynbee observa: “na linguagem tradicional judaico cristão muçulmana
poderíamos dizer que os helenos viam no homem o Senhor da Criação e o adoravam
como um todo, ao invés de Deus”.[1] Arnold
Toynbee mostra que esse traço do individualismo grego influenciou o
cristianismo ao tornar Deus humano submetendo-o ao sofrimento da condição
humana, ainda que Paulo (1 Coríntios 1:23) destaque a imagem de um Cristo
crucificado fosse visto como uma pedra de tropeço para os judeus e loucura para
os gregos[2]. Edith
Hall destaca a individualidade como um dos traços característicos dos gregos da
antiguidade, talvez pelo fato de ser uma sociedade escravocrata. A palavra para
liberdade, eleutheria, significa o
oposto da palavra usada para escravidão, o que fazia com que valorizasse ainda
mais sua liberdade.[3] Com Sólon os direitos da individualidade são reconhecidos como fundamento ético[4]. Donald
Kagan mostra que os poemas de Homero exaltam as virtudes do herói como individualidade
enquanto a Bíblia cristã é centrada em Deus. Para os gregos o núcleo de suas
vidas é moldado por coisas humanas ao contrário dos cristãos. A visão grega
presume o homem vivendo em sociedade. Aristóteles destaca o homem como criatura
política e que precisa de uma polis[5]. No Éden
cristão a perfeição é associada a não ter de trabalhar. A transgressão de
querer adquirir do fruto da árvore do conhecimento e querer ser um deus, é
punida com a expulsão desse paraíso de perfeição. O paraíso cristão para o
grego não faz sentido, é uma forma pré social, pré política. Segundo Donald
Kagan a vida na polis grega está associada ao pecado cristão.[6] A busca
por honra e glória está na essência do ideal grego, sem contudo o intuito de
tornar-se um deus.
[1]TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar,
1963, p. 20
[2]TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar,
1963, p. 26
[3]HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.7
[4]JAEGER, Werner.
Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.175
[5]História da Grécia Antiga #4 - com Donald Kagan, de Yale, 10:00
[6]História da Grécia Antiga #4 - com Donald Kagan, de Yale, 22:00
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