segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Individualismo grego

 

Rodolfo Mondolfo observa que Protágoras tem em vista o homem medida, o indivíduo em sua variável subjetiva. Platão no Teetetos critica essa máxima de Protágoras em que contra argumenta que o homem não pode ser a medida de todas as coisas pois enquanto um pode tremer de frio outro pode se sentir confortável. Gomperz tenta resolver esse argumento sugerindo que Protágoras estava se referindo ao homem enquanto espécie e não como indivíduo, no entanto, não há qualquer suporte em Platão, Aristóteles ou mesmo ao próprio Protágoras a esta interpretação. Arnold Toynbee observa: “na linguagem tradicional judaico cristão muçulmana poderíamos dizer que os helenos viam no homem o Senhor da Criação e o adoravam como um todo, ao invés de Deus”.[1] Arnold Toynbee mostra que esse traço do individualismo grego influenciou o cristianismo ao tornar Deus humano submetendo-o ao sofrimento da condição humana, ainda que Paulo (1 Coríntios 1:23) destaque a imagem de um Cristo crucificado fosse visto como uma pedra de tropeço para os judeus e loucura para os gregos[2]. Edith Hall destaca a individualidade como um dos traços característicos dos gregos da antiguidade, talvez pelo fato de ser uma sociedade escravocrata. A palavra para liberdade, eleutheria, significa o oposto da palavra usada para escravidão, o que fazia com que valorizasse ainda mais sua liberdade.[3] Com Sólon os direitos da individualidade são reconhecidos como fundamento ético[4]. Donald Kagan mostra que os poemas de Homero exaltam as virtudes do herói como individualidade enquanto a Bíblia cristã é centrada em Deus. Para os gregos o núcleo de suas vidas é moldado por coisas humanas ao contrário dos cristãos. A visão grega presume o homem vivendo em sociedade. Aristóteles destaca o homem como criatura política e que precisa de uma polis[5]. No Éden cristão a perfeição é associada a não ter de trabalhar. A transgressão de querer adquirir do fruto da árvore do conhecimento e querer ser um deus, é punida com a expulsão desse paraíso de perfeição. O paraíso cristão para o grego não faz sentido, é uma forma pré social, pré política. Segundo Donald Kagan a vida na polis grega está associada ao pecado cristão.[6] A busca por honra e glória está na essência do ideal grego, sem contudo o intuito de tornar-se um deus.



[1]TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 20

[2]TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 26

[3]HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.7

[4]JAEGER, Werner. Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.175

[5]História da Grécia Antiga #4 - com Donald Kagan, de Yale, 10:00

[6]História da Grécia Antiga #4 - com Donald Kagan, de Yale, 22:00 https://www.youtube.com/watch?v=3D302A0dpfM&t=5s

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