Os melhores tratados
alquímicos da época foram traduções de textos árabes como a Summa Perfectionis Magisterii[[1] do século XIV escrita originalmente por Geber (721-815).[2] O autor
assume que todos os metais são compostos de uma mistura de corpúsculos de
enxofre e mercúrio e fornece uma descrição detalhada das propriedades metálicas.
O texto pratica uma forma de numerologia referido como o “método do equilíbrio”
(mīzān) que consistia em determinar a quantidade das “quatro naturezas”
(quente, fria, úmida e seca) em uma substância por meio da análise de cada
letra do alfabeto árabe de seu nome. Cada letra era associada a um valor numérico.
Os textos jabirianos também argumentam que todas as coisas contêm uma realidade
“oculta” (bāṭin), bem como a “manifesta” (zāhir). Esse livro foi elogiado por
Petrus Bonus devido a sua clareza se comparado a outros alquimistas, onde por
exemplo encontramos uma receita para se fazer ácido sulfúrico[3]. Geber
destaca que a alquimia aparece no Ocidente na metade do século XII quando
Robert de Ketton traduz para o latim De
Compositione alchemiae de Morenius a partir do original em árabe. Os Setenta
Livros de Jabir foram traduzidos para o latim por Gerard de Cremona no século
XII. Ao descrever um de seus fornos Geber conclui: “se alguém puder inventar algo mais engenhoso, não permita que nossa
invenção possa retardar tais desenvolvimentos”[4]. Geber é
o nome latinizado de Jabir ibn Hayyan. Uma versão mutilada de sua obra foi
publicada por um outro escritor que também se denominava Geber no Summa
perfectionis magisterii (O Tratado do magistério da perfeição) e que se
tornou uma referência em alquimia na idade média possivelmente escrita pelo
monge Paulo de Taranto no século XIII. A Summa de Geber usa a técnica de
ocultação literária conhecida de ocultistas da Renascença como Agrippa em De
occulta philosophia (1533) e conhecida como "dispersão do conhecimento"[5]. Essa
técnica, amplamente empregada no corpus jabiriano, refere-se à prática de desmembrar
um discurso e separar as respectivas partes para que não possam ser lidas
sequencialmente. O termo gibberish
que se refere um texto initeligível foi cunhado no século XVI e remete
pejorativamente aos textos do alquimista Geber.[6]
[1]https://books.google.com.br/books?id=tZ-WXuo84ioC&printsec=frontcover
[2]SEDGWICK, W.; TYLER, H;
BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do
século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.189
[3]GOLDFARB, Da alquimia à
química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.143
[4]SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956,
p.743
[5]https://www.britannica.com/biography/Abu-Musa-Jabir-ibn-Hayyan
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