quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Geber

 

Os melhores tratados alquímicos da época foram traduções de textos árabes como a Summa Perfectionis Magisterii[[1] do século XIV escrita originalmente por Geber (721-815).[2] O autor assume que todos os metais são compostos de uma mistura de corpúsculos de enxofre e mercúrio e fornece uma descrição detalhada das propriedades metálicas. O texto pratica uma forma de numerologia referido como o “método do equilíbrio” (mīzān) que consistia em determinar a quantidade das “quatro naturezas” (quente, fria, úmida e seca) em uma substância por meio da análise de cada letra do alfabeto árabe de seu nome. Cada letra era associada a um valor numérico. Os textos jabirianos também argumentam que todas as coisas contêm uma realidade “oculta” (bāṭin), bem como a “manifesta” (zāhir). Esse livro foi elogiado por Petrus Bonus devido a sua clareza se comparado a outros alquimistas, onde por exemplo encontramos uma receita para se fazer ácido sulfúrico[3]. Geber destaca que a alquimia aparece no Ocidente na metade do século XII quando Robert de Ketton traduz para o latim De Compositione alchemiae de Morenius a partir do original em árabe. Os Setenta Livros de Jabir foram traduzidos para o latim por Gerard de Cremona no século XII. Ao descrever um de seus fornos Geber conclui: “se alguém puder inventar algo mais engenhoso, não permita que nossa invenção possa retardar tais desenvolvimentos”[4]. Geber é o nome latinizado de Jabir ibn Hayyan. Uma versão mutilada de sua obra foi publicada por um outro escritor que também se denominava Geber no Summa perfectionis magisterii (O Tratado do magistério da perfeição) e que se tornou uma referência em alquimia na idade média possivelmente escrita pelo monge Paulo de Taranto no século XIII. A Summa de Geber usa a técnica de ocultação literária conhecida de ocultistas da Renascença como Agrippa em De occulta philosophia (1533) e conhecida como "dispersão do conhecimento"[5]. Essa técnica, amplamente empregada no corpus jabiriano, refere-se à prática de desmembrar um discurso e separar as respectivas partes para que não possam ser lidas sequencialmente. O termo gibberish que se refere um texto initeligível foi cunhado no século XVI e remete pejorativamente aos textos do alquimista Geber.[6]



[1]https://books.google.com.br/books?id=tZ-WXuo84ioC&printsec=frontcover

[2]SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.189

[3]GOLDFARB, Da alquimia à química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.143

[4]SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.743

[5]https://www.britannica.com/biography/Abu-Musa-Jabir-ibn-Hayyan

[6]DE ROLA, Stanislas. Alquimia. Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 15


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