Até o século XIV quando os primeiros relógios com registro de hora
foram construídos em Londres uma hora poderia ter uma duração duas vezes maior
em junho do que em dezembro[1]. Na
França coube a Carlos V a determinação do início do dia pela marcação dos
relógios das igrejas do Paris e do palácio real de modo que o dia já não
começava exatamente com o nascer do sol como vinha sendo adotado.[2] Os
desenhos mais antigos deste mecanismo datam de 1364 do astrônomo e médico Giovanni
di Dondi de Pádua, filho de Jacopo Dondi. Jacopo di Dondi já instalara um
relógio astronômico na torre do Palazzo Capitano em Pádua em 1344. [3]O relógio
de Giovanni Dondi por sua vez marcava as 24 horas do dia, os dias do ano e algumas
festas da Igreja.[4] O relógio dos céus de Giovanni Dondi o Astrarium,
o mais famoso dos relógios medievais [5], com
sete mostradores, concluído em 1368, possui uma réplica no Smithsonian
Institute de Washington[6]. O
relógio marcava as vinte quatro horas, além das posições da lua e dos cinco
planetas conhecidos da época, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, as
fases da lua, os dias, os meses e as festas do ano [7]. Petrarca
amigo de Dondi entregou-lhe 50 ducados para compra de um anel de ouro que
deveria usar em sua lembrança. Petrarca se refere a Dondi com o “príncipe dos
astrônomos” e ao “maravilhoso planetário
que ele construiu e que os ignorantes tomam por um relógio”. A complexidade
das engrenagens dos relógios de Dondi era de tal monta que somente em 1561 se
conseguiu construir um semelhante.[8] O relógio
foi colocado na Bibliopteca de Pádua e sua descrição é apresentada na obra Planetarium
de 1364 em três volumes. O médico florentino Giovannni Dondi publicou um texto
em que especifica os detalhes de seu relógio: “se o estudante do manuscrito não pode montar este relógio por si, perde
tempo estudando o resto do manuscrito” em que reconhece a dificuldade de
implementação, e que para sua implementação o estudante necessita de um
conhecimento prático que o livro não é capaz de transmitir [9]. O
sucesso de Dondi que além de astrônomo era médico, lhe valeu a alcunha de “dell’orologio” ou Dondi dall Orologio.
Entre os médicos era comum o interesse por relógios usados na medição do tempo
de modo que entre os árabes por exemplo o médico relojoeiro era chamado de el-saati.[10]
[1]MLODINOW, Leonard. De
primatas a astronautas, Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p.117
[2]USHER, Abbott. Uma
história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 278
[3]MORTIMER, Ian. Séculos
de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 149
[4]BRAGA, Marco; GUERRA,
Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.I, Rio de
Janeiro:Zahar, 2011, p. 45
[5]MORTIMER, Ian. Séculos
de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 149
[6]BRONOWSKI, J. A
escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.194; DELUMEAU, Jean. A
civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.176
[7]MORTIMER, Ian. Séculos
de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 150
[8]MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic
progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.49; GIMPEL, Jean. A revolução industrial
da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.133, 139, 141; USHER, Abbott. Uma
história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 264
[9]O’BRIEN. Robert. As
máquinas, Rio de Janeiro:Time Life, José Olympio, 1965, p. 34
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