quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Experimento em Galileu

 

Galileu também inventou um mecanismo para medir o fluxo de água na forma de uma balança hidrostática (bilancetta)[1], um relógio de pêndulo[2] e um termômetro.[3] A luneta, um instrumento inventado por artesãos holandeses, aperfeiçoado por Galileu pela prática, foi ignorado, quando não desprezado, pela ciência.[4] Para Lobo Carneiro o método experimental de Galileu Galileu inaugura a ciência moderna: “seu método de investigação científica consiste numa justa combinação da experiência com a matemática, instrumento de lógica dedutiva. Partindo de alguns fatos experimentais, constrói-se uma primeira hipótese ou teoria para interpretá-los. Desta teoria tiram-se certas conclusões por via dedutiva; em seguida submete-se a validade dessas conclusões á experiência, a qual corresponde sempre á última palavra. A hipótese é substituída ou aperfeiçoada se os ensaios não a conforma. O critério da verdade é, sempre, em última análise, a experiência [..] em Galileu a experimentação é geralmente orientada por alguma teoria”[5]. Segundo Galileu mesmo Aristóteles valorizava a experiência: “estou seguro de que se Aristóteles regressasse ao mundo, aceitaria a mim como seu seguidor, graças as minhas poucas mas conclusivas refutações em lugar de muitas outras pessoas que para sustentar tudo o que ele disse era verdadeiro , tiram suas conclusões dos textos, ainda que na realidade nunca tivessem na sua mente”.[6] Segundo Gaileu Galilei não seria através da escolástica que se irá desvendar os segredos do mundo, mas pelas demonstrações matemáticas: “a filosofia está escrita nesse grande livro permanentemente aberto diante de nossos olhos – refiro-me ao universo – mas que não podemos compreender sem primeiro conhecer a língua e dominar os símbolos em que está escrito. A linguagem desse livro é a matemática e seus símbolos são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem cuja ajuda é impossível compreender uma única palavra de seu texto, sem cuja ajuda vagueia-se em vão por um labirinto escuro”.[7] Ainda segundo Galileu: “simpatia, antipatia, propriedades ocultas, influências e outros termos são usados pelos filósofos como uma desculpa para a resposta correta que seria: não sei. Esta resposta é muito mais tolerável do que as demais, assim como a cândida honradez é mais bela do que a falsidade[8]. Hooykaas destaca que embora os pitagóricos já destacassem o papel da matemática há uma diferença fundamental com Galileu: os gregos entendiam a matéria como um empecilho para as as ideias matemáticas fossem reveladas, para tanto seria necessário abstrair-se da matéria ao passo que Galileu busca matematizar o mundo físico tal como ele é.

[1]ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru: Edusc, 2001, p. 147

[2]WHITE, Michael. Galileu Galilei, Colombia: Abril Cinco, 1993, p. 18

[3]BURTT, Edwin Arthur. As bases metafísicas da ciência moderna. Brasília: UNB, 1984, p. 60

[4]ROSSI, Paolo. Os filósofos e as máquinas. São Paulo:Cia das Letras, 1989, p. 100

[5]COSTA, Terezinha. Vida e obra de Lobo Carneiro, Rio de Janeiro:Andrea Jakobsson Estudio, 2005, p.142

[6]WHITE, Michael. Galileu Galilei, Colombia: Abril Cinco, 1993, p. 24

[7]GALILEI, Galileu. O ensaiador. Os pensadores, São Paulo:Abril Cultural, 1978. BURTT, Edwin Arthur. As bases metafísicas da ciência moderna. Brasília: UNB, 1984, p. 61; CREASE, Robert. As grandes equações, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p.56

[8]WHITE, Michael. Galileu Galilei, Colombia: Abril Cinco, 1993, p. 53



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