terça-feira, 8 de setembro de 2020

Galileu e o Arsenal de Veneza

 

Os engenheiros italianos transformaram regiões como a Toscana em um celeiro de inovações técnicas das quais Leonardo da Vinci (1452-1519) tornou-se o símbolo deste movimento. Galileu Galilei no Diálogo sobre as duas novas ciências escreve sobre os engenheiros do Arsenal de Veneza (Arzanà dei Venetiani): “Parece-me que a frequente atividade do vosso famoso Arsenal, senhores venezianos, oferece vasto campo filosófico às inteligências especulativas, e particularmente naquela matéria que se denomina mecânica posto que neste lugar é continuamente construído todo tipo de instrumentos e máquinas, por parte de inúmeros artesãos, entre os quais é possível que existam, tanto graças às observações feitas pelos antepassados, como pelas que fazem continuamente por sua própria reflexão, alguns que aliam sua perícia a um raciocínio profundo”.[1] O personagem Sagredo da obra de Galileu descreve  os mecânicos “peritíssimos e de discurso finíssimo que me ajudou várias vezes na pesquisa dos efeitos ainda ocultos e quase inopináveis” [2]. Paolo Sarpi por diversas vezes havia estado com Galileu no Arsenal de Veneza e soube em 1609 que o duque de Veneza estava interessado na “trompa holandesa” um modelo de telescópio que entendeu ser muito caro. Sarpi sugeriu apresentar Galileu ao doge para que pudesse expor a sua versão de luneta mais barata. O acordo foi feito em troca de uma promessa de aumento significativo de salário na Universidade de Pádua onde Galileu era professor de matemática. A promessa, contudo, acabou não se cumprindo e Galileu foi apresentar sua luneta a Corte de Florença do grão duque de Toscana Cosimo II chefe da poderosa da família dos Medici quando em 1610 publica Sidereus Nuncius ("O Mensageiro das Estrelas"). Cosimo II nomeou Galileu primeiro matemático da Universidade de Pisa.[3]



[1] BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.II, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 37; CARNEIRO, Lobo. Galileu, fundador da teoria da resistência dos materiais. In; GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia, São Paulo:Edusp, 1985,p.246; CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.II ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 121

[2] ROSSI, Paolo. O Nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 187

[3] WHITE, Michael. Galileu Galilei, Colombia: Abril Cinco, 1993, p. 42



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