Fernão Cardim no século XVI escreve que “as comodidades das casas não são muitas por
serem as mais delas de taipa e palha, ainda que já se vão fazendo edifícios de
pedra, cal e telha”[1].
Pero de Magalhães Gandavo em Tratado da Terra do Brasil que remete a
fatos anteriores a 1575 constata que “a
maior parte da camas do Brasil são redes”. Sérgio Buarque de Holanda
destaca terem sido raras as camas nos primeiros séculos de colonização, sendo
mais comum o uso de redes para dormir.[2] Taunay descreve o mobiliário do período colonial como “toscos bancos e
catres, mesas e escabelos como mobília, rudes arcas mal ajustadas, onde se
guardava a pouca roupa da família, pois sobremodo escasseava pano”. As
camas eram poucos comuns sendo muito mais comum o uso da rede. Na Vila de São
Paulo em 1620 a única cama existente foi requisitada e tomada a força de seu
proprietário Gonçalo Pires pela Câmara local para ser oferecida ao Ouvidor Geral
da Repartição Sul, Amâncio Rebêlo Coelho, em visita a correição. O caso foi
alvo de demanda judicial por sete anos em que o proprietário exigia reparação
pelos danos.[3] A
história relatada por Alcântara Machado em Vida e Morte do Bandeirante
(1929), mostra quão escasso eram os itens de mobiliário nas residências. Dampier
em 1699 refere-se a escassez de mobiliário: “isto
é coisa de que os portugueses e espanhóis não se ocupam [...] Verifiquei que em
suas fazendas querem grandes casas, mas descuidam inteiramente do mobiliário”.[4] Taunay
se refere a “toscos bancos e catres,
mesas e escabelos como mobília, rudes arcas mal ajustadas, onde se guardava a
pouca roupa da família, pois sobremodo escasseava pano”. [5] O capitão mor e padre Guilherme Pompeu de Almeida, banqueiro dos bandeirantes e
comerciante de prata, um dos homens mais ricos de São Paulo no século XVII
tinha em sua casa “camas de alto espaldar, ostentando colchões estofados e
travesseiros macios, dignos do mais requintado sibarita”.[6] O inconfidente Claudio Manuel da Costa,
um alto funcionário público, teve confiscados em 1789 seu mobiliário que
incluía vinte e oito cadeira, trinta e dois bancos, dois leitos, duas cômodas,
dois armários, duas estantes, móveis de jacarandá entre outras peças.[7]
[1]PINHO, Wandereley. Mobiliário, vestuário, joias e
alfaias dos tempos coloniais, Revista do IPHAN, n° 4, 1940, p.251
[2]FREYRE, Gilberto.
Sobrados e mucambos, São Paulo:Record, 1998, p. 381
[3]LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de
Cultura, 1961, p. 144, 224
[4]LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de
Cultura, 1961, p. 223
[5]LIMA, Heitor Ferreira.
História Político econômica e industrial do Brasil, São Paulo:Cia Editora
Nacional, 1970, p. 90
[6]LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de
Cultura, 1961, p. 226
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