domingo, 23 de agosto de 2020

Sofistas

 

No Fedro, Platão se refere a retórica dos sofistas onde “é necessário contar mais com a aparência do que com a verdade, e que por meio de argumentação fazem parecer grande o pequeno e pequeno o grande, e disfarçam o novo com forma antiga e o antigo com forma nova”. Xenofonte corrobora a crítica de Platão: “Os sofistas falam para enganar e escrevem em proveito próprio e  não beneficiam ninguém, nenhum deles tornou-se sábio, nem o é, mas a qualquer deles basta que sejam chamados de sofista, o que entre gente de senso é uma injúria”[1]. Segundo Protágoras “os sofistas prejudicam os jovens pois conduzindo-os justamente às disciplinas de que fogem, conduzem-nos contra a sua vontade ensinando-lhes cálculos, astronomia, geometria, música, entretanto quem vem a mim não estudará senão o que deseja”. Para Aristóteles: “Assim como há pessoas que preferem parecer sábios  a sê-lo, em vez de o serem mesmo sem parecer, dado que a Sofística é uma sabedoria aparente e não real, e o sofista é o que negocia uma sabedoria aparente e não real, assim é evidente que se lhes torna mais necessário parecer que fazem obra de sabedoria, do que fazer obra de sabedoria sem parecer” [2]. Para Platão os sofistas abdicam de uma educação humanista ampla para reduzir seu escopo a objetos particulares, ou seja, uma techne que inclui aritmética, astronomia, geometria e música, mas que se distingue de uma educação puramente técnica e profissional [3]. Quando os gregos queriam falar de arte usavam a palavra techne que significava técnica ou perícia e não o que hoje conhecemos como belas artes.[4] A techne para Aristóteles é descrita como uma qualidade racional  para fabricar algo enquanto a sophiase emprega nas artes para designar aqueles homens que são os mais perfeitos em sua técnica, por exemplo, se aplica a Fídias como escultor e a Policleto como construtor de estátuas. Neste uso, sofia quer dizer somente excelência artística”.[5] Aristóteles em Refutações sofísticas escreve “a sofística é uma sabedoria aparente mas não real; e o sofista é um traficante de sabedoria aparente mas não real”.[6]

[1]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.135

[2]ARISTÓTELES, Organon VI Elencos sofísticos, Os Pensadores, Sâo Paulo:Noca Cultural, 1999, p. 80

[3]JAEGER, Werner. Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.325

[4]KIDSON, Peter. Artes plásticas. In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia, Brasília:UNB, 1998, p. 448

[5]FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorial Labor, 1966, p. 128

[6]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.136



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