O alquimista Johann Joachim Becher no
livro Physica Subterranea de 1667
apresentou uma teoria sobre os elementos, como desenvolvimento da teoria de
Empédocles, considerando três tipos de Terras diferentes: terra mercurialis,
terra lapida e terra pinguis, este último presente nos materiais combustíveis era
libertado quando esses materiais ardiam[1].
Assim um pedaço de madeira é composto de cinza e terra pinguis; quando é queimado a terá pinguis é liberada restando
apenas a cinza. Georg Stahl denominou esta terra
pinguis de flogisto[2],
considerado como um fluido expelido durante a combustão e a calcinação
(atualmente conhecida como oxidação) de metais[3].
Stahl considerou que quando um material entrava em combustão, sofria corrosão
ou era calcinado perdia o seu flogisto (phlogiston):
quanto mais combustível for um material, mais flogisto liberta na combustão[4].
Materiais combustíveis como papel e madeira se harmonizavam com o previsto pela
teoria do flogisto pois quando queimavam grande parte de sua substância
desaparecia restando apenas cinzas, com respectiva redução de peso. No entanto
ao se queimar metais eles acumulavam ferrugem de modo que o peso final era
maior que o do metal original. A explicação para os defensores da teoria do
flogisto era simples, para tais materiais o flogisto tinha peso negativo, ou
seja, quando ligado ao material ele fazia o conjunto pesar menos.[5] Outros como Chardenon distinguiam entre gravidade específica e absoluta e
supunha que o flogístico diminuía a segunda em todos os corpos em que se
unisse.[6] René Taton observa que por não ter uma teoria rival à altura, a teoria do
flogístico, embora não conseguisse explicar o paradoxo do porque a
transformação do metal em cal era acompanhada de um aumento de peso ainda que
envolvesse a perda de flogístico, contando com a adesão de cientistas como
Priestley, Scheele, Cavendish, Macquer, Kirwan e Richter: “parece mais justo considerar que a teoria de Stahl foi, na realidade,
uma grande teoria”.[7] Immanuel Kant na Crítica da razão pura menciona a teoria de Stahl ao
lado de Galileu e Torricelli como um marco da ciência.[8] Paolo Rossi mostra que Stahl marca um período em que a química estava
consciente de seu desenvolvimento independente do pensamento místico alquímico.
Em 1723 Stahl escreve: “A química ao longo de mais de duzentos anos foi
domínio exclusivo dos charlatães que produziam uma infinidade de vítimas. Hoje
algumas pessoas começaram a se ocupar seriamente nessa ciência. Não deve
surpreender o seu número pequeno. Era óbvio que os impostores, as falsas
promessas dos fabricantes de ouro, os supostos arcanos, os remédios universais,
ou os preparados farmacêuticos muitas vezes nocivos dos alquimistas tornassem a
química odiosa às pessoas honestas e sensíveis, despertando nelas uma sensação
de desgosto por um saber caracterizado pela fraude e pela impostura”.[9]
[1]STRATHERN, Paul. O
sonho de Mendeleiev: a verdadeira história da química, Rio de Janeiro:Zahar,
2002, p.178
[2]GOLDFARB, Da alquimia à
química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.223
[3]ABRIL Cultural,
Medicina e Saúde. História da Medicina, v.II, São Paulo, 1970, p. 343
[4]BELL, Madison Smartt.
Lavoisier no ano um. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 51
[5]STRATHERN, Paul. O
sonho de Mendeleiev: a verdadeira história da química, Rio de Janeiro:Zahar,
2002, p.181
[6]DAUMAS, M. Nascimento
da química moderna, In: TATON, René. A ciência moderna: o século XVIII, tomo
II, livro 3, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1960, p. 134
[7]TATON, René. A ciência
moderna: o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.167
[8]BELL, Madison Smartt.
Lavoisier no ano um. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 52
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