sábado, 15 de agosto de 2020

Quatro elementos e os deuses

 

Empédocles (490 – 435 a.c)[1] desenvolveu sua teoria dos quatro elementos primordiais do universo, que eles denominava “raízes”[2] e Aristóteles mais tarde chamaria de “elementos”[3], terra, ar, fogo e água.[4] Para Empédocles tais raízes eram deuses o que demonstra a presença divina na natureza[5]. Para Empédocles: “Saiba que são quatro as raízes de todas as coisas: Zeus brilhante [fogo], Hera nutriz [ar], Edoneu [Hades, terra] e Nestis [água] que alimenta com as suas lágrimas as fontes da vida para os mortais”[6]. Empédocles nunca usou o termo "elemento" (em grego: stoicheion), que parece ter sido usado pela primeira vez por Platão. Segundo Plutarco: “Empédocles, diz que existem quatro elementos, o fogo, o ar, a água e a terra, e dois princíoios ou faculdades e potêcias principais, acordo e desacordo, um dos quais tem a força e o podre de juntar e unir, e o outro de separar e desunir”.[7] Segundo Empédocles os quatro elementos são movidos por duas forças antagônicas, o amor que une e o ódio que separa[8]. Segundo Abel Rey a teoria dos quatro elementos formulada por Empédocles é “uma das mais extraordinárias sínteses teóricas que a ciência já realizou. Será a grande hipótese de trabalho até o século XVI e mesmo ate o início do século XVII”.[9] Heráclides de Ponto relata que Empédocles chegou a reviver uma mulher sem respiração por trinta dias o que lhe valeu o título de mantis ou adivinho além do de médico, pela capacidade de comunicação com as almas dos mortos.[10] Gorgias de Leontini (485-380 a.c.) foi discípulo de Empédocles e teria presenciado efeitos mágicos do mestre. Em Elogio a Helena, Górgias usa de forma pioneira o termo mageia como relativo a atividades de um mago. Já no século V a.c. Édipo Rei de Sófocles se refere ao célebre mago cego Tirésias denunciado como tecedor de intrigas.[11] No texto hipocrático Sobre a doença sagrada, que trata da epilepsia, o autor critica a ação de tais magos: “Se eles alegam saber como atrair a Lua e provocar um eclipse do Sol, tempestades e tempo bom, chuva e seca, deixar o mar intransponível e a terra infértil e todas as coisas deste tipo, quer eles aleguem saber essas coisas por meio de ritos ou por outro conhecimento ou prática, ao fazer disso o seu negócio, eles me parecem ser ímpios, que não acreditam nem que os deuses existam nem que tenham qualquer poder e, ao fazê-lo, não conseguem evitar extremos, já que os deuses são o mesmo que nada para eles”. Para o autor a lua, o sol, o mar participam do divino, e mortais não podem de modo algum controlar o divino de modo que ao alegar terem tais poderes negam a existência do divino, o que constitui uma impiedade. [12]

[1]STRATHERN, Paul. O sonho de Mendeleiev: a verdadeira história da química, Rio de Janeiro:Zahar, 2002, p.22

[2]TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 19; GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia, São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 49; SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. XXVI, 214

[3]RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental, Rio de Janeiro:Nova Fronteira,2016, p.43

[4]RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: das origens à Grécia. São Paulo:Círculo do Livro, 1987, p.82; SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.55

[5]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 59

[6]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.98

[7]LAFONT, Olivier. A química. In: COTARDIÈRE, Philippe. História das ciências: da antiguidade aos nossos dias, Rio de Janeiro:Saraiva, 2011, p.133

[8]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 240

[9]TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 27

 [10]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 87

 [11]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 89, 93

[12]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 63


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