Um manual de magia do século XII de origem árabe o Ghayat al Hakin ou O objetivo do sábio conhecido também como o Picatrix que trata de talismãs[1], traduzido para o espanhol a partir do árabe na corte de Afonso X rei de Leão e Castela, o Sábio (1252-1284), o homem é o microcosmo que reflete a harmonia do macrocosmo, e a magia o instrumento pelo qual o homem pode agir sobre todo o universo operando novas convergências de forças e pode elevar-se acima dos sete ceus[2]: “O homem inventa hábeis técnicas e suas astúcias, realiza milagres e imagens maravilhosas, guarda as formas das ciências [...] e é Deus quem o faz compositor e inventor de suas sabedorias e de suas ciências, intérprete de suas qualidades e receptor de todas as coisas do mundo”.[3] A magia consiste em controlar o influxo do spiritus na matéria através dos talismãs, objetos materiais em que conserva o spiritus de uma estrela associada aquela pedra de modo a imagem do mundo representada pelo talismã, resultado do trabalho do artesão, era fundamental para estabelecer esta conexão[4]. Os espíritos que habitam os astros no reino puro poderão descer ao nosso mundo material atraídos pelos desenhos de Kharakteres escritos em gemas ou em placas de chumbo.[5] No Picatrix é descrito o papel de Hermes na regulagem do curso do Nilo do Egito e na construção de templos na cidade de Adocentyn onde o sábio filósofo governa aos moldes da República de Platão.[6] O Picatrix em latim tem ampla difusão na Renascença sendo encontrado na biblioteca de Pico de Mirandola.[7] Martin Plessner[8] sugere que um dos tradutores do Picatrix no século XIII inclui um texto que contém um indicativo da base teórica do método experimental. O texto discorre sobre a eficácia de um método para tratamento de picada de escorpião em que inclui a observação dos resultados para confirmação de sua eficácia: “E essa foi a razão que me incitou "...para me dedicar à magia astrológica." Além disso, esses segredos já eram conhecidos pela natureza e a experiência os aprovava. O homem que lida com a natureza não tem nada a fazer senão produzir uma razão do que a experiência trouxe” [9].
[1]YATES, Frances.
Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 62
[2]DELUMEAU, Jean. A
civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.II, p.52, 57
[3]GREGORY, Tullio. Natureza. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do
Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 306
[4]YATES, Frances.
Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 82
[5]COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 115
[6]YATES, Frances.
Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 67
[7]YATES, Frances.
Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 63
[8]Martin Plessner: Uma Definição Medieval de Experiência Científica no Picatrix
Hebraico. Em: Jornal do Warburg e Courtauld Institute 36 (1973), pp. 358-359
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