sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Protágoras

 

Arnold Toynbee destaca que a sociedade helênica se distinguia por ter “o homem como a medida de todas as coisas” tal como enunciado por Protágoras[1]. Sexto Empirico explica que “por medida entende o critério do juízo, por causa, os fatos; o que quer dizer que o homem é o meio do juízo de todos os fatos, dos que são enquanto são e dos que não são enquanto não são”. Para Aristóteles em Metafísica: “Protágoras dizia que o homem é a medida de todas as coisas, o que significa que o que parece a cada um, também o é para ele, com toda a certeza”. Rodolfo Mondolfo observa que Protagoras tem em vista o homem medida, o indivíduo em sua variável subjetiva. Platão no Teetetos critica essa máxima de Protágoras em que contra argumenta que o homem não pode ser a medida de todas as coisas pois enquanto um pode tremer de frio outro pode se sentir confortável. Gomperz tenta resolver esse argumento sugerindo que Protágoras estava se referindo ao homem enquanto espécie e não como indivíduo, no entanto não há qualquer suporte em Platão, Aristóteles ou mesmo ao próprio Protágoras a esta interpretação. Segundo Arnold Toynbee apesar do culto do homem, ou humanismo, não ser uma forma de idolatria exclusivamente helênica: “na linguagem tradicional judaico cristão muçulmana poderíamos dizer que os helenos viam no homem o Senhor da Criação e o adoravam como um todo, ao invés de Deus”.[2] Arnold Toynbee mostra que esse traço do individualismo grego se fez presente de forma marcante no cristianismo ao tornar Deus humano submetendo-o ao sofrimento da condição humana, ainda que Paulo (1 Coríntios 1:23) destaque a imagem de um Cristo crucificado fosse visto como uma pedra de tropeço para os judeus e loucura para os gregos[3]. Edith Hall destaca a individualidade como um dos traços característicos dos gregos da antiguidade, talvez pelo fato de ser uma sociedade escravocrata. A palavra para liberdade, eleutheria, significa o oposto da palavra usada para escravidão, o que fazia com que valorizasse ainda mais sua liberdade.[4] Com Sólon os direitos da individualidade são reconhecidos como fundamento ético[5].



[1]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.137

[2]TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 20

[3]TOYNBEE, Arnold. Helenismo: história de uma civilização, Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 26

[4]HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.7

[5]JAEGER, Werner. Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.175


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