sábado, 22 de agosto de 2020

Paracelso bombástico

 

Em 24 de junho de 1526 numa fogueira de São João[1] preparada por estudantes da Basileia[2], Paracelso atacou violentamente a terapêutica tradicional queimando em público em panelas contendo enxofre obras de Galeno[3], Aristóteles e o Canon da Medicina de Avicena[4], se referindo que eles deveriam arder no inferno:[5]Se os vossos médicos só sabem o que o vosso príncipe Galeno estava pregando no inferno, de onde me tem enviado cartas, far-se-ia sobre eles o sinal da cruz com um rabo de raposa. De igual forma o vosso Avicena senta-se no vestíbulo do pórtico infernal; e eu discuti com ele o seu aurum potabile, a sua quintessência, o seu elixir da longa vida, a sua mitrida, a sua teriaga e todo o resto. Ó hipócritas que desdenhais das verdades que são são enviadas por um grande médico, ele próprio instruído pela natureza e filho do próprio Deus ! Vinde, pois, e escutai impostores, que dominais apenas pela autoridade de vossas altas posições ! Depois da minha morte, os meus discípulos avançarão, arrastar-vos-ão para a luz e mostrar-vos-ão vossas sujas drogas com que até agora tendes regulado a morte dos príncipes e dos demais notáveis magnatas do mundo cristão. Pobres dos vossos pescoços no dia do julgamento! Sei que a monarquia será minha. Minhas também serão a honra e a glória. Não que eu me exalte a mim próprio: a natureza exalta-me. Dela nasci, é a ela que eu sigo. Ela me conhece e eu a conheço. A luz que existe nela, eu contemplei-a; exatamente também provei o mesmo na figura do microcosmo, e encontrei-o nesse universo”[6]. O estilo explosivo de Paracelso está na origem do termo em inglês bombástico em referência a seu sobrenome Bombastus.[7]

[1]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.314; SARTON, George. Six wings, men of science in the Renaissance, Bloomington: Indiana University Press, 1957, p. 109

[2]ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 273

[3]DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.II, p.135; TATON, René. A ciência moderna: o Renascimento, tomo II, v.I, São Paulo:Difusão, 1960, p. 18

[4]BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.II, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 50

[5]FARIAS, Robson Fernandes. Paracelsus e a alquimia medicinal, São Paulo: Gaia, 2006, p.20

[6]FARIAS, Robson Fernandes. Paracelsus e a alquimia medicinal, São Paulo: Gaia, 2006, p.22

[7]ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 273


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