sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Demócrito

 

Para Empédocles ou Demócrito havia algo na matéria que não era passível de transformação, sejas as ditas “raízes” ou “átomos”, respectivamente. Platão por sua vez acreditava que tudo estava sujeito à transformação, ao mesmo tempo em que todo é formado a partir de uma forma eterna e imutável, como princípio abstrato ao invés de um elemento básico físico. Platão acreditava numa realidade autônoma no mundo das ideias por trás do mundo dos sentidos [1]. O materialista Demócrito em sua concepção mecânica do universo, portanto se contrapõe ao idealismo de Platão e sua concepção teleológica. O pensamento de Platão não era materialista mas teleológico: o que existe não o resultado de uma necessidade cega e fortuita dos átomos de Demócrito, mas ao contrário, as coisas e acontecimentos atendem a uma finalidade, ou seja a explicação científica não pode prescindir da noção de bem e de fim[2]. Demócrito rejeita a sensação como fonte do conhecimento: “pelos sentidos, nós na verdade não conhecemos nada de certo, mas somente alguma coisa que muda de acordo com a disposição do corpo e das coisas que nele penetram ou lhes opõe resistência [...] Há duas formas de conhecimento: o legítimo e o ilegítimo. Ao ilegítimo pertencem todos estes: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato”. Segundo Demócrito: “é necessário conhecer o homem segundo este cânone: que o verdadeiro está longe de nós”[3]. Segundo Teofastro, Demócrito reduz as qualidades sensíveis às formas atômicas de modo que o ácido tem forma angulosa, o doce é composto de formas redondas: “opinião o doce, o amargo [...] a verdade somente os átomos e o vácuo”.[4] Segundo Georg Hegel: “Demócrito é o primeiro grego a realizar o caráter do espírito científico, que consiste em explicar de maneira coerente uma multidão de fenômenos, sem introduzir, nos momentos difíceis, um deus ex machina [...] Demócrito é o primeiro que excluiu rigorosamente todo elemento mítico. É o primeiro racionalista”.[5] Nossos sentimentos permitem-nos conhecer apenas as qualidades secundárias das coisas enquanto que a verdade, única realidade da criação, é constituída de uma necessidade incompreensível para nós que regula as combinações dos átomos.[6]



[1]GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia, São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 98

[2]ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.34

[3]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.127

[4]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.119

[5]SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 354

[6]MONTANELLI, Indro. História dos gregos, São Paulo:Ibrasa,1962, p. 176


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