Para
Empédocles ou Demócrito havia algo na matéria que não era passível de transformação,
sejas as ditas “raízes” ou “átomos”, respectivamente. Platão por sua vez
acreditava que tudo estava sujeito à transformação, ao mesmo tempo em que todo
é formado a partir de uma forma eterna e imutável, como princípio abstrato ao
invés de um elemento básico físico. Platão acreditava numa realidade autônoma
no mundo das ideias por trás do mundo dos sentidos [1]. O
materialista Demócrito em sua concepção mecânica do universo, portanto se
contrapõe ao idealismo de Platão e sua concepção teleológica. O pensamento de
Platão não era materialista mas teleológico: o que existe não o resultado de
uma necessidade cega e fortuita dos átomos de Demócrito, mas ao contrário, as
coisas e acontecimentos atendem a uma finalidade, ou seja a explicação
científica não pode prescindir da noção de bem e de fim[2]. Demócrito
rejeita a sensação como fonte do conhecimento: “pelos sentidos, nós na verdade não conhecemos nada de certo, mas
somente alguma coisa que muda de acordo com a disposição do corpo e das coisas
que nele penetram ou lhes opõe resistência [...] Há duas formas de
conhecimento: o legítimo e o ilegítimo. Ao ilegítimo pertencem todos estes: a
visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato”. Segundo Demócrito: “é necessário
conhecer o homem segundo este cânone: que o verdadeiro está longe de nós”[3]. Segundo
Teofastro, Demócrito reduz as qualidades sensíveis às formas atômicas de modo
que o ácido tem forma angulosa, o doce é composto de formas redondas: “opinião
o doce, o amargo [...] a verdade somente os átomos e o vácuo”.[4] Segundo
Georg Hegel: “Demócrito é o primeiro
grego a realizar o caráter do espírito científico, que consiste em explicar de
maneira coerente uma multidão de fenômenos, sem introduzir, nos momentos
difíceis, um deus ex machina [...] Demócrito é o primeiro que excluiu
rigorosamente todo elemento mítico. É o primeiro racionalista”.[5] Nossos sentimentos permitem-nos conhecer apenas as qualidades secundárias
das coisas enquanto que a verdade, única realidade da criação, é constituída de
uma necessidade incompreensível para nós que regula as combinações dos átomos.[6]
[1]GAARDER, Jostein. O
mundo de Sofia, São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 98
[2]ZINGANO, Marco. Platão
& Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002,
p.34
[3]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.127
[4]MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.119
[5]SOUZA, José Cavalcante.
Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores,
São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 354
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