Stephen Shapin mostra que com as sociedades científicas promove-se a
divulgação científica como um valor. Na Royal Society do século XVII as
execuções experimentais eram submetidas a apreciação dos demais cientistas que
testemunhavam sua aprovação em um Livro de Registros. Segundo o motto da
Sociedade tal como expressa por John Evelyn: Nullius in verba – ou seja, a verdade deveria ser buscada na
experiência e não na palavra de nenhuma autoridade[1]: Não aceites a palavra de ninguém por uma
coisa, vê tu mesmo, ou seja, a ciência não deve se pautar pela autoridade
dos antigos[2].
Os relatórios experimentais deveriam ser escritos de modo a permitir a
reprodução pelos eleitores ausentes[3]. Segundo
Peter Burke: “Algumas sociedades cultas
eram sociedades mais ou menos secretas, enquanto outras, como a Royal Society
de Londres, se interessavam em tornar público o conhecimento. A longo prazo, a
ascenção do ideal do conhecimento público é visível no período moderno e está
ligada ao surgimento da imprensa”[4].
Mersenne apresentou em 1635 a proposta de uma academia que reuniria os eruditos
de toda a Europa tendo o progresso do conhecimento humano ao longo do tempo um
de seus pilares : “Diz-se que é preciso
respeitar a Antiguidade: Aristóteles, Platão, Epicuro, esses grande homens, não
terão talvez se enganado ? E não se considera que Aristóteles, Platão, Epicuro
eram homens como nos, da nossa mesma espécie, e que, além do mais, o mundo está
dois mil anos mais velho no tempo em que vivemos, possui mais experiência, deve
ser mais culto, e afinal é a velhice do mundo e a experiência que nos permite
descobrir a verdade ?”.[5] Para
Mersenne a ciência é um empreendimento que envolve o compartilhamento de
ideias: “as ciências fizeram, entre si, um juramento de inviolável
sociedade”.[6] Este movimento deve ser compreendido como reação ao profundo impacto sofrido
pela ciência após a condenação de Galileu. Em 1633 Descartes escrevera a
Mersenne dizendo que desistia de publicar seu tratado sobre o mundo diante da
condenação de Galileu no mesmo ano. John
Milton no seu livro Areopagitica após visitar Galileu se queixa que “os
italianos cultos lamentavam o estado de escravidão em que a ciência fora
reduzida na sua pátria; era a razão pela qual o espírito italiano, tão vivo,
apagara-se e pela qual há muitos anos tudo aquilo que se escrevia não era mais
do que adulação e banalidades’. [7]
[1]TINNISWOOD, Adrian. The Royal Society, London:Head of Zeus, 2019, p.40
[2]BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.359
[3]SHAPIN, Steven. A
revolução científica, Portugal:DIFEL, 1999, p.118
[4]BURKE, Peter. Uma
história social do conhecimento, Rio de Janeiro:Zahar, 2003, p.80
[5]ROSSI, Paolo. Os
filósofos e as máquinas. São Paulo:Cia das Letras, 1989, p. 85
[6]TATON, René. A ciência
moderna: o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.12
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